Crítica: Bala Perdida
Balle Perdue, França, 2020
Bala Perdida faz o básico com maestria e provê ótimas cenas de ação em alta velocidade
★★★★☆
A história de Bala Perdida está longe de prezar pela originalidade, mas sua familiar premissa é executada com maestria e objetividade suficientes para justificar suas ótimas cenas de ação. O filme não tenta adicionar mais drama ou suspense do que o necessário para colocar o protagonista Lino (Alban Lenoir) em fuga pelas estradas francesas enquanto ele tenta provar sua inocência e evitar uma nova estadia no sistema prisional.
Apesar de filmes de ação com carros em alta velocidade levarem o espectador a lembrar imediatamente da franquia Velozes e Furiosos, Bala Perdida também evoca outros pequenos clássicos desse subgênero. O mais óbvio é Carga Explosiva, que também é protagonizado por um careca mal-encarado e também se passa no sul da França. E por falar da região, é difícil não se lembrar de Ronin, thriller de espionagem cuja principal atração são as alucinantes perseguições automobilísticas tanto nas estradas quanto nas apertadas ruas de cidades francesas.
Bala Perdida é tudo o que o também francês (e também disponível na Netflix) Asfalto de Sangue deveria ter sido. Nesse outro, as cenas de corrida e de perseguição em potentes motocicletas são boas o suficiente, mas o roteiro insiste em passar a maior parte do tempo em uma história tão dramática quanto monótona. Quando o filme finalmente chega em uma situação que realmente prende a atenção, o espectador já está cansado da sequência de não-acontecimentos da primeira hora da produção.
Em Bala Perdida, por sua vez, a tensão entre Lino e o vilão Areski (Nicolas Duvauchelle) cresce paulatinamente depois do assassinato que complica a trama. É possível perceber o paralelo entre o desespero dos dois personagens, que estão em situações nas quais jamais gostariam de estar e veem que suas opções estão apenas ficando mais limitadas ao longo da passagem do tempo. O jogo de gato e rato entre os dois dificilmente subestima a inteligência do espectador, envolvendo a busca pela ajuda e tentativas de manipulação de Quentin (Rod Paradot) e Julia (Stéfi Celma), os dois coadjuvantes mais proeminentes.
É uma trama simples que contribui para o impacto das visualmente estimulantes cenas de ação, algumas das quais são bem inventivas. A criatividade se destaca não apenas nas formas como os carros são usados nas perseguições, mas também em uma memorável fuga de uma delegacia. Lenoir, que também possui experiência como dublê, contribui para que a improvável cena na qual Lino escapa de uns dez policiais no soco (!) fique relativamente convincente e definitivamente intensa. É um belo trabalho de toda a equipe de dublês e a dedicação que eles colocaram na coreografia faz a diferença no produto final.
Além da ação, o grande trunfo de Bala Perdida é não exigir que o espectador suporte longos minutos de exposição até chegar no “prato principal”. Desde os momentos iniciais, a narrativa se move de forma rápida e eficiente, minimizando o tédio e maximizando a ação. Em alguns momentos, ele chega a lembrar o ótimo Pura Adrenalina, filme francês que gerou remakes tanto em Hollywood (Crimes na Madrugada) quanto em Bollywood (Thoongaavanam).