Crítica: Bailarina
Ballerina, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
A trama de vingança no centro de Bailarina pode até ser rasa, mas é mais do que suficiente para dar a Eve Macarro (Ana de Armas) motivos para viajar pelo mundo protagonizando incríveis cenas de ação. Ao invés de ser um simples derivativo ou uma mera imitação, a produção realmente tenta ir além do que já foi feito anteriormente na franquia John Wick. O resultado está praticamente no mesmo nível que os filmes anteriores.
Bem mais enxuto que John Wick 4, Bailarina faz um ótimo equilíbrio entre história e ação. A narrativa se encaixa muito bem no universo de John Wick (Keanu Reeves), fazendo um ótimo uso dos elementos estabelecidos anteriormente, como os Ruska Roma (ou “ciganos russos”) e o Hotel Continental. Felizmente, o desenvolvimento do universo e dos personagens não é tão longo que ocupe tempo demais da projeção, permitindo que o filme fique focado no prato principal.
Enquanto os tiroteios permanecem à altura dos filmes anteriores, algumas sequências de ação vão além. Entre um tiroteio e outro, Eve também participa de criativas batalhas nas quais ela precisa improvisar com pratos de cozinha, espadas e até uma mangueira de incêndio. Em determinado ponto, sem conseguir encontrar uma arma carregada, ela é obrigada a enfrentar seus atacantes estritamente com granadas (!), resultando em muitos momentos explosivos.
Alguns trailers do filme mostram rápidas cenas dos personagens utilizando lança-chamas. Porém, o material de divulgação não prepara o espectador para o quão insano e extensivo é o uso dessas armas no ato final. Durante aproximadamente uns 10 minutos, os tiroteios são quase completamente substituídos por um duelo de lança-chamas (!) que tem tudo para se tornar icônico. É o tipo de cena que vale a pena ser vista múltiplas vezes e deixa o espectador se perguntando como elas foram feitas.
Já nos combates corpo a corpo, tanto o roteiro quanto os coreógrafos de luta reconhecem a desvantagem física de Eve. Seu estilo é adaptado para utilizar muitos movimentos de jiu-jitsu e para improvisar com os elementos ao seu redor. Isso não é muito diferente do estilo do próprio John Wick, mas em nenhum momento Eve pode depender apenas de força bruta para derrotar seus oponentes. Ela leva a sério o ensinamento de sua treinadora Nogi (Sharon Duncan-Brewster): “Lute como uma garota”.
A trama também dá a entender que cada membro do Ruska Roma possui uma frase em latim tatuada nas costas. Enquanto a tatuagem nas costas de John Wick diz Fortes Fortuna Adiuvat (“A sorte favorece os ousados”), as costas de Eve Macarro carregam a inscrição Lux in Tenebris (“Luz na escuridão”).
A atuação de Ana de Armas faz toda a diferença para tornar as cenas de ação ainda mais convincentes, ainda que não necessariamente realistas. Semelhante ao que Tom Cruise e Hayley Atwell fizeram em Missão Impossível: Acerto de Contas, seus olhares e suas expressões faciais são muito bem sincronizadas com a brutalidade, a imprevisibilidade e o humor das exageradas cenas de ação. Não é que isso dê profundidade à personagem, mas sim que incrementa a experiência do espectador.
Depois de protagonizar diversas cenas de ação em filmes como Agente Oculto, 007: Sem Tempo para Morrer e Ghosted, a atriz dá mais um passo para se concretizar como estrela de ação. Ela pode seguir os passos de Charlize Theron, que já deixou sua marca com filmes como Mad Max: Estrada da Fúria, Atômica e The Old Guard.
Como antagonista, Bailarina introduz no universo de John Wick uma seita de assassinos liderada pelo Chanceler (Gabriel Byrne), que foi o responsável pela morte do pai de Eve, Javier (David Castañeda). Por mais que esse seja mais um elemento altamente estilizado pela franquia, a representação do grupo é razoavelmente fiel às seitas da vida real.
O Chanceler utiliza seu controle sobre os seguidores para evitar qualquer tipo de dissidência, invocando argumentos de lealdade, destino e tradição para manipular e para não permitir que os membros saiam do grupo. Todo esse desenvolvimento não é realmente necessário, mas pelo menos ajuda a diferenciar os vilões de Bailarina das organizações criminosas mostradas nos filmes anteriores.
Já a participação do próprio John Wick ajuda a elevar a trama, ainda que não fique claro como ele teve tempo para essa side quest durante os eventos do quarto filme, depois de sua recuperação nos momentos iniciais. Em Bailarina, o personagem tem um papel semelhante ao de Marcus (Willem Dafoe) no primeiro filme, De Volta ao Jogo, sendo contratado para impedir a protagonista.
Com incríveis, criativas e explosivas cenas de ação, Bailarina consegue ser muito mais do que uma “versão feminina” dos filmes anteriores. A produção mostra um futuro possível para a franquia, sem depender apenas de John Wick para explorar esse estiloso mundo de fantasia e luzes de neon. Além disso, os produtores encontram em Ana de Armas uma “jogadora” perfeita para ajudá-los a traçar a violenta jornada de Eve Macarro.