Crítica: Planeta dos Abutres (Scavengers Reign)

Scavengers Reign, EUA, 2023



HBO Max · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Mais do que uma história sobre sobrevivência e perseverança, Planeta dos Abutres oferece uma experiência profunda e contemplativa sobre o ciclo da vida e sobre a condição humana. A trama dessa série animada se inspira nas tramas e nas ideias de vários outros trabalhos de ficção científica, e ainda assim consegue ser unicamente bela e impactante. Sem necessariamente ser pessimista ou otimista, essa é uma história que nos lembra da frieza e da beleza da realidade que nos cerca.

planeta dos abutres | scavengers reign 1A jornada de Azi (Wunmi Mosaku), Ursula (Sunita Mani), Sam (Bob Stephenson), Levi (Alia Shawkat) e Kamen (Ted Travelstead) em um planeta desconhecido nos remete às jornadas dos primeiros seres humanos a se aventurarem fora do continente africano. Por mais que certos elementos lhes pareçam familiares, eles precisam lidar com novos climas, novas plantas e novos animais, sem necessariamente saber o grau de periculosidade dessa nova natureza.

É claro que no caso de Planeta dos Abutres a diferença entre o conhecido e o desconhecido é muito maior. Na série, não se trata apenas de diferentes espécies de cobras e felinos, mas de espécies e de processos naturais completamente diferentes daqueles existentes no planeta Terra. Diante das regras naturais e dos processos bioquímicos que conhecemos, a natureza no planeta Vespa parece bizarra e inexplicável.

É aí que a capacidade de adaptação da humanidade se mostra vital. Depois de alguns poucos meses na superfície do planeta, alguns dos personagens já conseguem extrair recursos de plantas e de animais para auxiliá-los em sua sobrevivência. Porém, o que eles ainda não haviam feito, e que é mostrado ao longo dos doze episódios, é se integrarem aos estranhos ciclos de vida e de morte existentes no local. De repente, eles já não são meros visitantes, mas partes integrantes dos novos biomas.

Diante disso, o espectador percebe que a luta desses personagens pela sobrevivência pode ser considerada apenas mais um dos processos naturais que ocorrem naquele planeta. Não se trata de heróis ou vilões, mas de seres vivos seguindo seus instintos e fazendo o máximo possível para permanecerem vivos. A grosso modo, é exatamente isso o que cada um de nós já está fazendo na superfície do planeta Terra.

planeta dos abutres | scavengers reign 1Ideias como essa já foram parcialmente exploradas em filmes de terror como Vida e Alien: Covenant. Porém, Planeta dos Abutres também tenta ir mais fundo na psique de seus personagens. Nesse sentido, o resultado só é satisfatório no caso de Kamen, um homem que só toma decisões com base em seus próprios interesses e que não enxerga muita coisa além de seu trabalho e de seus objetivos pessoais. Sua ligação com uma criatura que funciona de forma semelhante o ajuda a ter uma melhor percepção sobre o próprio comportamento.

Por outro lado, os demais personagens são apresentados mais em termos de seus relacionamentos interpessoais e de suas reações aos elementos que vão surgindo diante deles. Enquanto passam a fazer parte daquela natureza, alguns deles tentam encontrar significado e explicações para os fenômenos que estão presenciando. Isso pode parecer desnecessário, mas produções recentes como a série Raised by Wolves e o filme O Milagre realçam que, muitas vezes, a nossa sobrevivência depende das histórias (ou das “explicações”) que nós somos capazes de contar para nós mesmos.

Lembrando filmes como Solaris e Aniquilação, Planeta dos Abutres leva o espectador por uma jornada que pode ser considerada um triunfo tanto em termos de animação como em termos de imaginação. Ao explorar um mundo relativamente realista e radicalmente diferente do nosso, a série nos põe a refletir sobre o nosso próprio planeta e sobre os impressionantes processos físicos e bioquímicos que ocorrem por aqui.

Indo além, a série também pode ser acompanhada de produções com uma pegada mais filosófica, como a série Undone e o filme Sombras da Vida. Mesmo a série documental Cosmos: Mundos Possíveis pode servir como um complemento para a profundidade temática de Planeta dos Abutres.

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