Crítica: Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio
The Conjuring: The Devil Made Me Do It, EUA, 2021
Filme se solta um pouco da fórmula, mas o resultado não é tão inovador quanto poderia ser
★★★☆☆
A boa notícia é que a trama de Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio não gasta muito tempo apenas mostrando fenômenos paranormais assombrando a família da vez, o que era até interessante mas evitava a evolução da trama no filme anterior. A fórmula estabelecida no primeiro filme é deixada um pouco de lado, permitindo que o casal formado por Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) incorpore ainda mais o papel de detetives sobrenaturais. Dessa vez, há inclusive um vilão de carne e osso com o qual os Warren precisam lidar.
A má notícia é que essa nova abordagem combina ainda menos com a suposta veracidade dos acontecimentos dramatizados, o que prejudica a suspensão da descrença. Vários dos fenômenos mostrados seriam mais aceitáveis em filmes como Arrasta-me Para o Inferno ou It: A Coisa, ou mesmo em séries como Sobrenatural ou Penny Dreadful. O que fica cada vez mais claro é que James Wan (que, dessa vez, é apenas um dos autores da história) e os outros realizadores não estão realmente contando a história dos Warren, mas apenas utilizando suas vidas como inspiração para contos de pura fantasia.
Em outras palavras, o “baseado na história real” que aparece no início deveria ser substituído por “parcialmente inspirado nos relatos de Ed e Lorraine Warren”. Um ótimo exemplo do quão longe esses filmes estão da realidade é que na história real no qual Invocação do Mal 2 foi baseado, os Warren apareceram sem serem convidados e foram dispensados depois de um dia de consultoria voluntária. No filme, o casal é convocado por um padre e passa vários dias na casa da família, salvando a mãe e as crianças de uma “freira demoníaca”.
Ainda assim, esse terceiro filme da trilogia (e oitavo da franquia) funciona como um blockbuster de terror, servindo como “filme pipoca” para os fãs do gênero. Nesse sentido, Invocação do Mal 3 oferece tudo o que os espectadores da saga poderiam esperar, de uma narrativa envolvente a sustos de tirar o fôlego. Graças a uma ótima edição e a uma boa mixagem de som, a maioria desses sustos funciona mesmo quando o movimento de câmera deixa evidente que um susto está prestes a ocorrer. Inclusive, os truques que combinam edição, efeitos especiais e movimentos de câmera estão dentre os principais ativos da trilogia.
O que diminui um pouco o impacto desse novo capítulo é uma lado dramático menos desenvolvido. A produção tenta mais uma vez colocar a história de amor entre Ed e Lorraine como pano de fundo da trama, o que funcionou muito bem no segundo filme mas que jamais se encaixa completamente nesse terceiro. Já Arne Cheyenne Johnson (Ruairi O’Connor), jovem que os Warren estão tentando inocentar, não possui tempo de tela suficiente para se tornar o centro dramático, servindo apenas como trampolim para a investigação principal. Isso esvazia qualquer relevância temática que o filme poderia ter, distanciando-o, por exemplo, da pequena obra-prima de terror O Que Ficou Para Trás (crítica aqui).
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio completa a diversão com uma ótima trilha sonora e um ato final que mistura diferentes tipos de terror. Por uma lado, é bom que a franquia esteja ampliando as fronteiras de sua dupla central. Por outro, ela termina de perder o clima de “assombrações da vida real” que permeou o Invocação do Mal original, que beirava a seriedade de um drama. O grande risco aqui é que os realizadores percam a inspiração e a franquia se arraste ao longo de uma morte lenta e dolorosa.