Crítica: Cursed – A Lenda do Lago – 1ª Temporada
Cursed, EUA, 2020
Série apresenta uma repaginação envolvente e curiosa da lenda do Rei Artur
★★★☆☆
A primeira temporada de Cursed: A Lenda do Lago poderia ter mais ação e menos episódios, mas ainda assim consegue prover uma visão interessante e envolvente da lenda do Rei Artur. O grande destaque dessa reimaginação não é o fato de que ela é contada sob o ponto de vista da Dama do Lago, Nimue (Katherine Langford), mas sim os vários aspectos políticos que são adicionados e que refletem questões atuais do nosso mundo.

Mas os aspectos políticos mais relevantes estão em outra parte da trama. Ao longo da história, Nimue se preocupa menos com o destino da Excalibur do que com o destino dos povos feéricos dos quais ela faz parte. A série os mostra como vítimas de uma chocante campanha de limpeza étnica promovida pelos Paladinos Vermelhos sob a liderança do Padre Carden (Peter Mullan). É uma história de extremismo, racismo e fanatismo religioso que já se repetiu em vários momentos da História da humanidade.
O mundo de Cursed: A Lenda do Lago é bem fantasioso (o que permite, inclusive, a escalação de um elenco bem diverso), misturando fatos históricos de diferentes períodos com conhecidos elementos do folclore europeu. Ainda assim, a perseguição sofrida pelos feéricos lembra tanto a perseguição que os povos celtas sofreram do Império Romano quanto os genocídios de povos indígenas promovidos por europeus nas Américas (sobre os quais já escrevi aqui). Além disso, a violência dos Paladinos Vermelhos dá origem a grandes grupos de refugiados em busca de abrigo, o que lembra a atual crise de refugiados em andamento no mundo. Sendo assim, os horrores como os mostrados na série estão longe de serem fantasiosos.

Ao misturar todos esses personagens em uma história que se passa antes da lenda do Rei Artur, os autores fazem mudanças significativas na mitologia (como juntar Igraine e Morgana em uma única personagem, além de dar o título de Cavaleiro Verde para Gawain), o que ajuda a manter a imprevisibilidade da história. Tudo indica que a Távola Redonda que será formada como resultado dos eventos de Cursed: A Lenda do Lago será bem diferente daquela das lendas originais. O mesmo vale para a Dama do Lago, já que a Nimue aqui apresentada é o verdadeiro centro gravitacional dos acontecimentos.
Cursed: A Lenda do Lago deve agradar ao espectador que se deixar levar pela fantasia e pela trama política, sem se importar com alguns detalhes fora do lugar, como uma certa inconsistência nos poderes da protagonista. A série tem mais a ganhar se investir mais na ação e na fantasia nos estilos de The Witcher e Warrior Nun (crítica aqui) do que se investir pesado no lado Game of Thrones de sua trama.







