Crítica: A Vastidão da Noite
The Vast of Night, EUA, 2019
A Vastidão da Noite transporta o espectador para uma outra era e para um outro tipo de mídia de massa
★★★★☆
O principal atrativo de A Vastidão da Noite é a energética e envolvente dinâmica entre seus dois protagonistas. Os diálogos entre Fay (Sierra McCormick) e Everett (Jake Horowitz) mantêm o espectador entretido mesmo antes de misteriosas ondas de rádio começarem a tomar conta dos céus de uma pequena cidade americana. O limitado orçamento da produção não permite respostas detalhadas sobre a natureza dos visitantes, e nem um clímax elaborado e explosivo, mas o que falta em efeitos especiais e “homenzinhos verdes” sobra em construção de clima e sofisticação narrativa.

Enquanto em alguns momentos a câmera e a edição do diretor Andrew Patterson provocam uma constante sensação de movimento (o que, às vezes, chega a ser exagerado), em outros ela simplesmente para e deixa as vozes dos personagens contarem intrigantes histórias do passado, que funcionam tão bem quanto (ou até melhor que) flashbacks tradicionais. Isso remonta ao início da narrativa humana, quando um dos poucos recursos dos quais um contador de histórias poderia fazer uso era a sua própria voz.
Esse é um dos motivos pelos quais A Vastidão da Noite é tão bem-sucedido em transportar o espectador para a sua época. Além disso, enquanto somos entretidos pela eloquência e pela irreverência de Everett, a personalidade ingênua e curiosa de Fay nos mostra como seria sonhar com o futuro no início da segunda metade do século 20. Para ela, empolgada leitora de revistas de curiosidades científicas, o ano de 1990 parecia ser um futuro distante e repleto de maravilhas tecnológicas.

Longe de ser uma megaprodução hollywoodiana, A Vastidão da Noite com certeza vai desagradar aos espectadores que estiverem esperando grandes respostas ou momentos épicos em seu ato final. Enquanto Everett e Fay vão mergulhando cada vez mais fundo em um mistério baseado apenas em sons e relatos pessoais, o espectador se diverte com a autêntica e conflituosa química entre os dois. Junto com o clima de medo e suspense, essa relação é mais do que suficiente para justificar a existência da produção, que está mais interessada nas curvas da estrada do que em um ponto de chegada.







