Coronavírus: 10 Histórias de Contaminação em Massa
1. O Primeiro Cruzeiro
Já escrevi aqui sobre o documentário O Último Cruzeiro, que fala sobre o surto de COVID-19 a bordo do navio Diamond Princess. O caso começou no dia 20 de setembro de 2020, quando um passageiro contaminado embarcou e ficou por cinco dias no navio. Posteriormente, ele testou positivo para o novo coronavírus, levando as autoridades a buscarem mais casos de contaminação. O resultado foi um total de 712 infectados e 14 mortes. Outros cruzeiros foram lançados e apresentaram casos posteriormente, dentre os quais se destacam o Ruby Princess (mais de 800 casos e 28 mortes) e o Grand Princess (122 casos e 7 mortes), ambos em março de 2020.
2. A Paciente 31
A Coreia do Sul ainda é considerada um caso de sucesso no controle da pandemia, mas parte de sua população não colaborou com os esforços das autoridades. Um dos casos mais famosos é o da Paciente 31, assim chamada por ter sido a 31ª pessoa a testar positivo para o novo coronavírus no país. Em 7 de fevereiro de 2020, a mulher de 61 anos se internou em uma clínica de medicina oriental devido a um pequeno acidente de trânsito. Apesar de apresentar uma febre persistente, ela se recusou a ser testada para o coronavírus e saiu de lá em três ocasiões: uma para ir em um restaurante com buffet e outras duas para ir na Igreja de Jesus Shincheonji. O resultado foi o maior surto do país até aquele momento, com mais de 5000 infectados dentre os fiéis da congregação. No início de março de 2020, o líder da organização pediu desculpas pela participação da igreja no agravamento da crise no país.
3. Theodore Roosevelt
No início de março de 2020, o porta-aviões USS Theodore Roosevelt, da Marinha dos EUA, fez uma parada no Vietnã que provavelmente deu início a um surto a bordo do navio. O primeiro caso positivo só foi identificado no dia 22 de março, o que deu tempo para a doença se espalhar silenciosamente dentre a tripulação. Além de mais de 1000 casos positivos, a crise também gerou atritos na cadeia de comando depois que as comunicações entre o capitão e seus superiores foram vazadas para a imprensa, expondo a gravidade da situação e a morosidade das figuras de alto escalão diante do problema.
4. Charles de Gaulle
Em abril de 2020, foi a vez do porta-aviões francês Charles de Gaulle sofrer com um surto. O navio havia atracado em Brest entre os dias 13 e 16 de março, mas os primeiros casos positivos só foram identificados no início de abril. Foram confirmados 1046 casos da doença dentre os marinheiros. Posteriormente, foi confirmado que a parada em Brest foi o ponto de infecção, inclusive com relatos de marinheiros que não seguiram os protocolos de segurança estabelecidos pelos superiores e se reuniram com familiares em restaurantes públicos.
5. Café com Aroma de Corona
Voltando à Coreia do Sul, agora em agosto de 2020, temos um dos casos mais comentados durante o primeiro ano da pandemia: uma única pessoa infectada provocou a contaminação de 27 outras em um Starbucks de uma cidade ao norte de Seul. A mulher se sentou perto de um dos aparelhos de ar-condicionado do segundo piso do estabelecimento, fazendo com que o vírus se espalhasse, por meio de aerossóis, tanto no ambiente superior quanto no inferior. Apenas os quatro funcionários do café foram poupados, provavelmente por estarem usando máscaras com vedação hermética, equivalentes às PFF2 no Brasil e às N95 nos EUA.
6. Amor Mínimo
Ainda na Coreia do Sul e ainda em agosto de 2020, a segunda onda da doença teria início de forma semelhante à primeira. Dessa vez, foi graças à Igreja do Amor Máximo que as autoridades perderam temporariamente o controle da situação. O líder da igreja, que estava mais preocupado em culpar a China e a Coreia do Norte pela doença, não apenas continuou com os cultos, mas também promoveu protestos contra as medidas de restrição adotadas pelo governo. Tanto os cultos quanto os protestos se tornaram novos epicentros da doença, adicionando milhares de casos a serem rastreados no país.
7. Com Dor, Sem Ganho
No final de agosto de 2020, um morador da cidade de Chicago resolveu ir na academia, apesar de não estar se sentindo muito bem. Dias depois, ele ligou para o estabelecimento e informou que havia acabado de testar positivo para COVID-19. A academia fechou as portas imediatamente, mas já era tarde demais. Segundo essa matéria, das 81 pessoas que frequentaram aulas de alta intensidade entre os dias 24 de agosto e 1º de setembro, 55 testariam positivo para COVID-19. Casos como esse levaram o CDC a recomendar o uso de máscaras durante exercícios intensos, mesmo quando há distanciamento social, além de sugerir que as academias melhorem a ventilação dos estabelecimentos e prefiram a realização de atividades ao ar livre sempre que possível.
8. Alta Produtividade
Em dezembro de 2020, as autoridades no estado do Oregon anunciaram que dois surtos de COVID-19 no Condado de Douglas haviam sido rastreados até uma única pessoa. O cidadão resolveu ir trabalhar mesmo apresentando sintomas da doença, o que resultou em “ações superpropagadoras”, de acordo com o governo estadual. O primeiro surto provocou 7 mortes, enquanto o segundo levou ao isolamento de mais de 300 pessoas com suspeita de infecção.
9. Infeliz Natal
No início de dezembro de 2020, um voluntário vestido de Papai Noel fez uma alegre visita a uma casa de repouso na Bélgica. Três dias depois, ele começou a ter sintomas de COVID-19 e testou positivo para a doença. Nas semanas seguintes, o estabelecimento teria um total de 88 infectados, incluindo 42 funcionários. A explicação mais plausível é que o “Papai Noel”, ainda sem sintomas, transmitiu a doença para alguns dos presentes na comemoração e o vírus se alastrou nos dias seguintes. Dentre os idosos contaminados, 27 faleceram até o dia 1º de janeiro de 2021.
10. Mais dor e ainda menos ganho
No início de março de 2021, a cidade de Hong Kong havia mais uma vez conseguido controlar a pandemia, depois de passar por cinco grandes ondas de casos. Porém, um surto em uma academia frequentada principalmente por advogados, banqueiros e executivos estrangeiros levou a cidade a mais uma vez reforçar as medidas de contenção. Os 47 casos positivos identificados a partir da academia levaram também ao fechamento de escolas internacionais e de empresas do setor financeiro da cidade. Devido ao surto, o uso de máscaras durante os exercícios se tornou obrigatório e os funcionários das academias devem ser testados a cada 14 dias.
Superpropagadores
Se três dos dez casos apresentados acima foram identificados na Coreia do Sul, é porque o país possui um dos mais avançados sistemas de rastreamento de casos, sendo capaz de investigar e identificar situações que escapam do acompanhamento da maioria dos outros países. No Brasil, esse tipo de rastreamento é praticamente inexistente, restando apenas especulações sobre como a doença se espalhou em casos específicos, como no casamento de subcelebridades em Itacaré e na propagação da variante P.1 em Araraquara. Desde a epidemia de ebola de 2013, os epidemiologistas já haviam notado que a maior parte da contaminação tinha origem de uma pequena parcela dos contaminados. Isso se confirmou durante a atual pandemia, com eventos e comportamentos superpropagadores sendo responsáveis pela maior parte das infecções.
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