Crítica: Um Lugar Silencioso
A Quiet Place, EUA, 2018
Terror explora ao máximo uma premissa interessante e original
★★★★☆
Imagine assistir a um filme de terror capaz de te deixar com medo de fazer qualquer barulho; que deixe seus instintos aguçados a ponto de qualquer som mais alto que um sussurro tomar sua completa atenção. É isso que esse fantástico Um Lugar Silencioso é capaz de fazer com o espectador. Além de não perder tempo com muitas explicações, o diretor John Krasinski constrói uma atmosfera angustiante na qual o terror é constante. E como se isso não fosse o suficiente, o roteiro ainda introduz alguns dos monstros mais implacáveis e amedrontadores da história do cinema.

A origem das criaturas é um dos pontos mais irrelevantes da trama, pois o que realmente importa é o efeito que a presença delas causa tanto em nossa civilização como em nossas vidas privadas. Com toda e qualquer atividade do nosso dia a dia tendo que ser realizada no mais absoluto silêncio, até quando conseguiríamos sobreviver? Considerando que somos animais sociais, até quando conseguiríamos manter a nossa sanidade? Devido à deficiência auditiva de Regan, a família Abbott consegue se comunicar via linguagem de sinais, mas até quando isso seria suficiente?
Enquanto a química entre Krasinski e Blunt (os dois divulgaram o filme juntos) também funcione muito bem em tela, é a atuação de Simmonds, que é deficiente auditiva na vida real, como Regan que rouba a cena em Um Lugar Silencioso. Ela exprime toda uma gama de sentimentos e sensações (incluindo a culpa por um evento traumático do passado e uma rebeldia adolescente) apenas por meio de gestos e expressões faciais, dominando cada cena em que aparece sem fazer muito esforço. Noha Jupe está ótimo como Marcus (que também é muito bem escrito e interpretado), mas acaba sendo ofuscado pela Regan de Simmonds.
Com apenas uma hora e meia de duração, Um Lugar Silencioso pode até ficar um pouco devagar enquanto apresenta a rotina da família na fazenda onde eles moram, mas isso não dura muito. Uma vez que o filme engata na “ação”, a tensão não diminui até o satisfatório desfecho, no qual a família finalmente descobre uma forma de superar as criaturas.

A premissa da família tentando sobreviver a um mundo pós-apocalíptico pode até lembrar um pouco o drama/terror Ao Cair da Noite (crítica aqui), mas há uma diferença simetricamente oposta: enquanto aquele filme é sobre um casal que se deixa conduzir pelo medo, os protagonistas de Um Lugar Silencioso mostram uma teimosa resiliência mesmo diante de uma situação absolutamente adversa. Ao invés de simplesmente se isolarem do mundo, eles desenvolvem elaboradas técnicas de sobrevivência e fazem um esforço lógico e dedicado para passá-las para seus filhos, ainda que isso exija muita calma e paciência. E são recompensados por isso.
Essa obra consolida Krasinski como um talento a ser acompanhado. Além de sair de sua zona de conforto, o diretor mostra que é capaz de atingir a excelência mesmo em um gênero com o qual ele não tinha intimidade (como deixou claro em várias entrevistas). Um Lugar Silencioso já pode ser considerado um dos melhores filmes de terror de 2018, e com certeza não será fácil superá-lo.







