Crítica: Bronx
Bronx, França, 2020
Dizer que o crime não compensa não é o suficiente para esse exagerado drama policial
★★★☆☆
Há algo terrivelmente niilista na trama de Bronx. O que poderia ser apenas um típico drama de crime francês na agora longa tradição de dramas de crime franceses se torna algo que diverge do padrão. A história do policial que decide fazer justiça com as próprias mãos toma alguns rumos inesperados aqui, resultando em um desfecho extremamente exagerado e essencialmente desprovido de uma mensagem moral. Se o diretor Olivier Marchal queria dizer que o crime não compensa, ele o faz da forma mais radical possível.

Ao contrário de outros filmes como esse, Bronx não possui seu próprio código moral e senso de justiça. Aqui, os personagens morrem não porque eles de alguma forma “merecem”, mas sim porque esse é o mundo no qual eles estão envolvidos. Poderia-se dizer que a moral aqui é que “quem vive pela espada, morre pela espada”, mas mesmo pessoas inocentes que estão na periferia desse mundo acabam sendo vítimas da violência inerente a nele.
O realismo aqui está no fato de que todos os planos de todos os personagens dão errado. Ao fim, muito sangue foi derramado e ninguém realmente fica por cima. Os assassinatos, as mentiras e as tentativas de manipulação até atingem os objetivos pretendidos no curto prazo, mas no médio prazo todos os tiros “saem pela culatra”. E, no longo prazo, poucos deles sobrevivem para contar a história.

Apesar de bem executada, a ação aqui é pouca e secundária. Não é a trama que está à serviço da ação, mas sim o contrário. E é uma trama boa o suficiente para manter o espectador vidrado nos acontecimentos e ansioso pelos próximos desenvolvimentos. Por mais que o filme não provenha a satisfação comum nas versões americanas desse tipo de história, há aqui atrativos mais imprevisíveis e interessantes mesmo quando se limitam a aplicar certos clichês do gênero.
O final de Bronx é surpreendente menos pelos acontecimentos em si e mais pela ferocidade com a qual o filme abraça o niilismo e remove todo e qualquer significado da narrativa. Não é apenas que o crime não compensa, mas a lei também não, e nem a vida em si. E o fato de que o filme foi escrito e dirigido por um ex-policial que se tornou cineasta apenas adiciona mais uma camada de niilismo à coisa toda.







