Crítica: Bárbaros – 1ª Temporada
Barbaren, Alemanha, 2020
Série traz para a tela a história de uma traição que deixou grandes cicatrizes em um império
★★★★☆
Os seis episódios de Bárbaros passam mais tempo mostrando os antecedentes da Batalha da Floresta de Teutoburgo do que a batalha em si, o que é uma representação bem apropriada daquele fato histórico. Mais do que pelo sangue derramado, aquele evento foi marcante pelas situações de seus protagonistas e pelas consequências que teria ao longo da História. A batalha ocorrida no dia 9 de setembro do ano 9 naquela floresta europeia ecoa até os dias de hoje na atual organização geopolítica do mundo.
Isso se dá porque ao unir tribos germânicas e impedir o avanço do poderoso Império Romano, o líder Armínio (Laurence Rupp) impôs um limite à expansão romana que jamais seria efetivamente ultrapassado. Se as populações germânicas tivessem sido completamente assimiladas pelo império, as invasões bárbaras talvez não tivessem acontecido e a História do mundo poderia ter sido radicalmente diferente. Mesmo a queda do Império Romano do Ocidente, que só aconteceria 400 anos depois, poderia ter sido adiada (ou até mesmo evitada) se não fosse por aquela derrota em 9 A.D.

Além de fazer um ótimo trabalho para representar a fragilidade dessa aliança, a série também aumenta a dramaticidade ao inserir alguns elementos fictícios, como o personagem Folkwin Wolfspeer (David Schütter) e a relação de pai e filho entre Quintílio Varo (Gaetano Aronica) e Armínio. Isso torna a traição de Armínio muito mais íntima e pessoal, lembrando uma famosa frase do autor John Le Carré: “O amor é qualquer coisa que você ainda pode trair. A traição só pode ocorrer se você ainda ama.”
É por isso que essa traição é tão difícil quanto necessária. Os quatro primeiros episódios mostram um Armínio dividido e indeciso, com suas duas lealdades em constante conflito. Seus dois reinos e seus dois pais possuem objetivos simetricamente opostos e inconciliáveis. Não há como salvar um sem trair completamente o outro. Para piorar, essa é uma decisão que ninguém mais poderia tomar por ele. Sua situação única também colocava sobre ele uma responsabilidade única, que ele teve que assumir até as últimas consequências.

Além disso, a série inova ao representar os romanos falando latim, algo incomum na indústria do entretenimento. Depois de décadas de representações feitas em inglês por americanos e britânicos, finalmente é possível assistir cenas nas quais os personagens romanos falam a língua do império, enquanto as tribos germânicas falam alemão. Isso aumenta a autenticidade e a imersão do espectador. Outro ponto inovador é ver a história sendo contada sob o ponto de vista das tribos, e não do império que as chamava de bárbaras.
Com uma produção de primeira linha e um roteiro inspirado, Bárbaros traz para a tela um drama profundo e instigante, que mexe com as origens das sociedades atuais e nos leva a imaginar como o mundo estaria se aquela relutante aliança germânica jamais tivesse sido formada. Mais importante do que a aliança em si, cujo destino deve ser explorado nas próximas temporadas, foram as cicatrizes que ela deixou em um império que se considerava imbatível, lembrando-o de que nada dura para sempre. Independente das várias vinganças que os romanos executaram nas décadas e séculos seguintes, a ferida aberta no orgulho do império naquele dia jamais se cicatrizaria completamente.







