Crítica: O Diabo de Cada Dia
The Devil All The Time, EUA, 2020
Apesar do elenco estelar, O Diabo de Cada Dia é direcionado a um público mais específico
★★★★☆
É apenas o espectador que já possui um certo apreço por histórias sombrias e pessimistas que vai realmente conseguir embarcar no passeio pela escuridão de O Diabo de Cada Dia. A atmosfera de southern gothic se torna rapidamente opressora graças a personagens que claramente carregam pesos do passado e a uma narração que é vital para estabelecer o tom “literário” da produção. A voz por traz dessa narração é a do próprio Donald Ray Pollock, autor do romance no qual o filme é baseado.

O imperfeito equilíbrio entre narração, flashbacks e uma longa introdução funcionam melhor do que se poderia esperar. A introdução toma os primeiros quarenta e cinco minutos de O Diabo de Cada Dia, mostrando um momento crítico da infância de Arvin Russell (Michael Banks Repeta/Tom Holland) e do seu relacionamento com seu pai, Willard (Bill Skarsgård), além da origem de sua irmã adotiva Lenora (Eliza Scanlen). O que se segue é uma violenta sequência de acontecimentos envolvendo o Reverendo Preston (Robert Pattinson), o xerife Lee (Sebastian Stan) e o casal de psicopatas formado por Sandy (Riley Keough) e Carl Henderson (Jason Clarke).
Além das relações e coincidências que os conectam, a maioria dos personagens de O Diabo de Cada Dia possui em comum um certo nível de psicose relacionada com o fervor religioso. Ou eles usam a religião para acobertar e justificar os próprios vícios, ou procuram nela algum tipo de salvação e transcendência que os levam a cometer atos de violência. Já Lenora e sua mãe Helen (Mia Wasikowska) são tão puramente devotas que se deixam levar por relacionamentos abusivos com supostos homens de Deus, de forma que a fé inabalável acaba sendo usada contra elas.

Assim como os dois filmes citados, O Diabo de Cada Dia também é elevado pela qualidade de seu elenco, que é o principal atrativo para o grande público. Porém, quem estiver esperando uma história “épica” ou empolgante vai acabar se decepcionando com esse conto gótico e pessimista, que recompensa a paciência do espectador que se transporta para aquele mundo cruel. Talvez o formato ideal para se adaptar essa obra fosse uma minissérie de seis episódios, mas isso só iria prolongar o sofrimento.







