Crítica: Enola Holmes

Enola Holmes, Reino Unido/EUA, 2020



Leve e divertido, Enola Holmes não decepciona, apesar de também não se destacar tanto quanto poderia

★★★☆☆


É o carisma da atriz (e produtora) Millie Bobby Brown que garante que Enola Holmes jamais saia completamente dos trilhos. Há mais de um momento no qual isso poderia acontecer, mas assim que a estrela volta para a tela com sua atuação empolgante e contagiante tudo se conserta e o mundo volta a fazer sentido. Além disso, o aspecto dramático, combinado com a mensagem de cunho feminista, funciona bem o suficiente para ser genuinamente emocionante e inspirador.

Mas para um filme que tenta ser tão politicamente progressista, a abordagem acaba sendo um tanto quanto conservadora. Não é que ela não funcione, mas o espectador que já possui um ponto de vista progressista pode achá-la repetitiva e, até mesmo, anacrônica. O roteiro poderia ser menos dependente da didática narração (feita por meio da quebra da quarta parede) e confiar no peso dramático das atuações para entregar sua mensagem. Isso traria a vantagem de diminuir o tempo de duração do filme, mas também traria a desvantagem de diminuir o tempo de tela da protagonista.

Há mais subtramas e personagens do que o necessário, mas todos eles ajudam a criar um amplo universo que pode ser melhor explorado em possíveis continuações. É o tipo de exagero que geralmente ocorre em histórias de origem ou em capítulos iniciais de franquias cinematográficas, e há grande potencial para isso em Enola Holmes. Pelo menos, nesse primeiro “episódio”, a protagonista literalmente decide em qual das duas aventuras possíveis ela vai embarcar, deixando a outra em segundo plano e passível de aprofundamento em outros filmes.

Essas possíveis continuações possuem espaço para melhorias, a começar pelo renomado irmão de Enola. O Sherlock Holmes de Henry Cavill é muito mais tranquilo e contido do que aqueles que vimos nas últimas encarnações do personagem. Aqui, toda a arrogância e falação fica por conta de Mycroft Holmes (Sam Claflin), que é praticamente um dos antagonistas da produção. A forma como Sherlock foi escrito e interpretado nessa reimaginação é perfeitamente válida, mas seria muito mais divertido ver a intensa Enola de Millie Bobby Brown lidando com os sherlocks de Robert Downey Jr. ou Benedict Cumberbatch.

Apesar disso, todo o elenco está fantástico. O novato Louis Patridge, que interpreta o jovem marquês de Basilwether, não faz feio diante de nomes como Helena Bonham Carter e Fiona Shaw. Tanto ele quanto o resto do elenco são beneficiados pelo centro gravitacional que é a atuação de Brown, que não se apaga mesmo diante dos pesados nomes já citados. Pela amplitude dos talentos demostrados aqui, a atriz parece ter um grande futuro não apenas nessa possível franquia, mas no cinema em geral, seja em dramas, comédias românticas ou filmes de ação e aventura.

Enola Holmes é um passatempo leve o suficiente para toda a família, oferecendo uma diversão otimista e tocante tanto para o público infanto-juvenil quanto para o adulto. Inteligente, bem humorada, resiliente e transgressora, a personagem pode ser uma grande fonte de inspiração para “jovens” de todas as idades.

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