Crítica: Cães de Guerra

War Dogs, EUA, 2016



Comédia lança um interessante olhar sobre os bastidores da guerra

★★★☆☆


Cães de Guerra dramatiza a história real de David Packouz (interpretado por Milles Teller) e Efraim Diveroli (Jonah Hill), dois jovens de vinte e poucos anos de Miami que ficaram responsáveis por fornecer armas e munição para a reconstrução do exército do Afeganistão na década de 2000. Para vencer a licitação multimilionária e entregar essa “encomenda”, eles cometeram dezenas de crimes, inclusive a violação de embargos comerciais internacionais. Tudo isso sob o constante efeito de drogas e sem entender o mínimo necessário sobre geopolítica.

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Dirigido por Todd Philips (de Se Beber Não Case), o filme tem ótimos momentos cômicos e foca na relação entre os dois amigos enquanto eles vão fundo no mundo de traficantes de armas internacionais. Mas, apesar de ser bem divertido e entregar o que promete, fica a sensação de que a narrativa poderia ter alçado um voo mais alto e ambicioso pelo menos em duas direções. A primeira seria ir mais fundo no mundo dos traficantes de armas e contextualizar melhor o ambiente geopolítico no qual os personagens estão envolvidos. No início do filme, a narração em off parece ir nessa direção, inclusive chegando a afirmar que:

A guerra é uma economia. Quem te disser o contrário ou está ganhando com ela ou é um idiota.

O segundo aspecto que poderia ser melhor explorado é o quão absurda foi a situação real dos dois jovens. Se comparado com o artigo original da Rolling Stone, o filme parece ter segurado a mão. Por exemplo, o artigo narra um momento no qual Packouz, chapado e em um restaurante “do momento” em Miami (chamado “Sushi Samba”), recebe uma ligação do Quirguistão dizendo que os russos confiscaram um de seus carregamentos. Isso foi resultado de uma estratégia do presidente Vladimir Putin para limitar a influência americana na região, e Packouz tinha que tentar lidar com isso via telefone e ainda sob o efeito de drogas. Essa cena não está no filme, mas poderia agregar bastante tanto em termos de comédia quanto em termos de contextualização geopolítica.

Dois filmes recentes e também baseados em fatos reais que exploraram bem esses dois aspectos foram O Lobo de Wall Street e A Grande Aposta. O primeiro colocou em tela até as loucuras mais inacreditáveis de Jordan Belfort em sua trajetória de ascensão e queda, para puro deleite do espectador. São três horas de pura insanidade. Já A Grande Aposta usa os mais diversos mecanismos e investe bastante tempo para explicar o pormenores das operações financeiras nas quais seus protagonistas estão envolvidos, sempre com bastante humor. Se esses dois filmes não existissem, talvez a narrativa de Cães de Guerra seria muito mais arrebatadora.

Esses aspectos não chegam a estragar a experiência e o filme diverte bastante, principalmente devido a atuação de Jonah Hill. Alguns dos melhores momentos são quando eles finalmente conseguem vencer a licitação e quando dirigem um carregamento de armas da Jordânia para Bagdá sem saber em quanto perigo estão. Como dito antes, o filme entrega o que promete, apesar de não ser a obra memorável que poderia ser extraída do material fonte.

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