Crítica: Pacificador – 2ª Temporada
Peacemaker – Season 2, EUA, 2025
HBO Max · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Chega a ser impressionante a forma com a qual o criador e roteirista James Gunn consegue combinar tudo o que ele precisa na segunda temporada de Pacificador. Além de ainda ser uma continuação de O Esquadrão Suicida e de ainda dar um genuíno peso dramático a uma narrativa cheia de humor grosseiro e violência extrema, a trama também serve como uma continuação do filme Superman e como uma forma do diretor continuar a construção de seu novo universo cinematográfico (DCU). Mais importante, ele faz isso com a ajuda de personagens que navegam pelo besteirol enquanto passam por sensíveis desenvolvimentos emocionais.
Um dos principais destaques aqui é a dinâmica interna do grupo de desajustados que está no centro da trama. Entre uma piada e outra, cada um dos personagens é bem desenvolvido e/ou bem aproveitado pela história. Depois dos eventos da primeira temporada, o grupo segue mais unido e mais problemático do que nunca. Apesar de todos os acontecimentos fantásticos, pode-se dizer que o centro dramático da temporada é a complicada relação entre Christhopher Smith/Pacificador (John Cena) e Emilia Harcourt (Jennifer Holland).
Em diferentes níveis, tanto eles quanto os demais personagens são pessoas traumatizadas que não sabem lidar de forma saudável com os próprios sentimentos e com as próprias limitações emocionais. O que o espectador presencia são esses personagens passando por uma acentuada curva de aprendizado enquanto cometem erros e tentam ignorar as consequências de seus traumas. Com a ajuda de um universo paralelo, alguns deles são forçados a enfrentar muito daquilo que eles queriam evitar.
Apesar do Pacificador ainda ser o protagonista e de cada personagem ter seus próprios dramas, o centro gravitacional da equipe acaba sendo Leota Adebayo (Danielle Brooks). Ela tenta manter o grupo unido enquanto Adrian Chase/Vigilante (Freddie Stroma) e John Economos (Steve Agee) tentam conciliar suas próprias prioridades com os novos desenvolvimentos da trama. Dessa forma, ela ajuda a manter o foco em uma narrativa que passeia pelas realidades de diversos personagens.
Em termos de desenvolvimento e atuações, a equipe não possui nenhum elo fraco e todos os personagens são capazes de manter a atenção do espectador individualmente. Mesmo Vigilante e Economos, que servem acima de tudo como fontes extras de alívio cômico, são bem desenvolvidos e bem interpretados o suficiente para se destacarem quando se tornam o centro da atenção. Até a águia Eagly (Dee Bradley Baker) tem seu próprio desenvolvimento e conta com sua própria subtrama em um dos episódios.
Além da evolução dos personagens centrais, a segunda temporada de Pacificador também evolui a trama geral do DCU, universo do qual a série faz parte agora. Alguns dos personagens introduzidos em Superman dão as caras novamente, como o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion) e a Mulher-Gavião (Isabela Merced). Porém, o personagem com a maior participação é Rick Flag Sr. (Frank Frillo), que substitui Amanda Waller (Viola Davis) como líder da ARGUS. Ele é pai de Rick Flag Jr. (Joel Kinnaman) e busca justiça pela morte do filho, que foi assassinado pelo Pacificador em O Esquadrão Suicida.
A busca de Flag pela apreensão do Pacificador e de sua tecnologia de viagem interdimensional é um dos grandes motores dessa temporada, colocando o personagem em contato com figuras que certamente serão muito importantes no futuro do DCU. Essa abordagem ajuda a manter a coerência e a continuidade no universo compartilhado, mas o fato de que ela está sendo feita em uma série da HBO Max pode levar Gunn a repetir alguns dos erros cometidos pela Marvel Studios.
O que a Marvel aprendeu recentemente é que ela não pode contar com os espectadores em geral acompanhando fielmente as séries de seu universo. Isso certamente afetou a recepção de filmes como Capitão América: Admirável Mundo Novo e Thunderbolts*, produções que dependiam pesadamente de eventos e de personagens que foram introduzidos na minissérie Falcão e o Soldado Invernal. Enquanto os fãs mais “hardcore” estavam atualizados, os espectadores mais casuais não tinham a menor ideia de onde alguns daqueles personagens vieram.
Pelo menos, como série isolada, Pacificador funciona muito bem. Um dos pontos altos da temporada é o penúltimo episódio. Além das várias revelações feitas, o capítulo conta com um dos momentos mais dramaticamente pesados da trama. Depois de deslumbrar as possibilidades de felicidade oferecidas pela realidade alternativa, o Pacificador acaba vendo suas ilusões sendo destruídas e seus traumas sendo repetidos bem diante de seus olhos. É um momento extremamente triste, que deixa o personagem em seu ponto mais baixo e mais depressivo até o momento.
A pegada dramática continua no último episódio. Ao invés de mais ação e de uma conclusão explosiva, o season finale está mais preocupado em estabelecer tramas futuras enquanto assume um surpreendente tom de despedida. James Gunn já afirmou que a continuação dessa história não virá em uma terceira temporada, mas sim em alguma outra série do DCU. É por isso que os dramas pessoais dos personagens são completamente resolvidos e uma nova fase parece aguardá-los.
No geral, a segunda temporada de Pacificador nos oferece boas quantidades de drama, ação e comédia, sempre de forma intensa e consistente. Não é que a série esteja (ou tente estar) no nível da fantástica Pinguim, mas ela também não pode ser considerada mais do mesmo dentre as muitas adaptações de quadrinhos que tivemos ao longo dos últimos vinte anos. Além disso, depois de Superman, os eventos dessa temporada tendem a deixar os espectadores ainda mais curiosos para o que vem por aí nesse novo universo compartilhado.