Crítica: O Urso – 4ª Temporada

The Bear – Season 4, EUA, 2025



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★★★★☆


Parte do ímpeto narrativo que havia sido perdido na terceira temporada está de volta nessa nova leva de episódios de O Urso. Apesar de estar mais focada, a narrativa não abre mão dos momentos mais introspectivos e meditativos. Mesmo quando fica mais intensa nos três episódios finais, é uma intensidade muito mais emocional do que frenética, o que afasta a série do estilo de filmes como Joias Brutas e O Chef e a aproxima de produções mais calmas, como Drive My Car e Dias Perfeitos.

Essa mudança de direção é importante para refletir o amadurecimento dos personagens. Se a essa altura eles ainda estivessem passando pelos mesmos tipos de problemas e conflitos da primeira temporada, a série teria ficado demasiadamente repetitiva. Para o espectador, aquele tipo de caos até tinha seu valor como entretenimento, já que mantinha um alto nível de suspense psicológico e adrenalina durante os episódios. De forma semelhante, o vício nesse tipo de adrenalina é um dos principais problemas de Carmy (Jeremy Allen White) ao longo das quatro temporadas lançadas até agora.

O que ele finalmente percebe é que sua obsessão com cozinhas caóticas e de ritmo acelerado é a forma que ele desenvolveu para não ter que lidar com suas pendências emocionais. É no caos que ele se sente vivo e é no caos que ele encontra um senso de propósito. Há sempre um objetivo a ser atingido, ou uma crise a ser resolvida, ou um novo nível de excelência a ser alcançado. Ao longo dos anos, ele desenvolveu a experiência necessária para brilhar nesses tipos de situações, moldando toda a sua identidade ao redor do trabalho.

Porém, ele jamais desenvolveu as habilidades ou a experiência necessárias para criar e manter relacionamentos saudáveis em sua vida pessoal. É bem provável que ele nem saiba que tipo de namorado ele seria se estivesse em um relacionamento de longo prazo.

No fim das contas, tanto Carmy quanto sua irmã Sugar (Abby Elliott) ficam desconfortáveis com a possibilidade de felicidade. No caso dela, isso causa uma incômoda sensação de que algo, de alguma forma, em algum momento, vai dar errado. Assim, eles estão sempre preparados para o pior, o que os impede de simplesmente viver e aproveitar o momento atual. Para eles, por mais estranho que isso possa parecer, o caos e a instabilidade formam uma espécie de zona de conforto. Ainda na crítica da segunda temporada, eu escrevi:

[Carmy] também não sabe lidar com o otimismo causado por esses sentimentos positivos. Ele conhece e tem experiência com a instabilidade de sua família e com a pressão de seu trabalho. Ele sabe como lidar com uma mãe carente que não sabe como demonstrar amor por seus filhos e com chefes extremamente abusivos no mundo da alta gastronomia. Ele sabe o que fazer quando as coisas dão completamente errado, mas não quando elas dão certo.

Um dos principais mecanismos que a narrativa de O Urso utiliza para manter o foco na quarta temporada é uma apertada data limite, criando uma nova corrida contra o tempo. Depois de uma crítica parcialmente negativa (o que pode servir como uma metáfora para a fria recepção recebida pela terceira temporada da série), a equipe recebe um prazo de dois meses para tornar o restaurante lucrativo. Com um relógio colocado sobre uma das bancadas da cozinha, essa data paira ameaçadora sobre todos os personagens. As incertezas que ela gera se combinam com a ansiedade e com as inseguranças que os protagonistas já carregavam.

No caso de Sidney (Ayo Edebiri), as incertezas e a indecisão que a acompanhavam desde a segunda temporada atingem um ponto máximo, levando-a a questionar todas as decisões que tomou até o momento. De repente, as várias possibilidades de futuro que estão bem diante dela se misturam com vários elementos que abalam seus alicerces e a fazem se sentir fracassada. Nos episódios 6 e 10, ela sente todo o peso da existência quando as principais pessoas com quem ela conta em sua vida dão seríssimos sinais de fragilidade e impermanência. Essa é uma nova fase de sua vida adulta, na qual ela mesmo vai ter que se tornar uma fonte de estabilidade e segurança, tanto em sua vida pessoal quanto na vida profissional.

Richie (Ebon Moss-Bachrach), por sua vez, não possui muitas inseguranças em sua vida profissional, mas precisa lidar com a vida seguindo em frente nos seus relacionamentos mais pessoais. O episódio especial que mostra o casamento de sua ex-esposa, Tiff (Gillian Jacobs), poderia ser tão intenso e caótico quanto o sexto episódio da segunda temporada, que, em um flashback, mostrou o nível de caos e instabilidade ao qual a família Berzatto poderia chegar. Dessa vez, o episódio especial apresentou um “show” de maturidade e inteligência emocional por praticamente todos os personagens, mesmo os que estavam mais inseguros com a situação.

Na quarta temporada, a colcha de retalhos de dramas e inseguranças de O Urso se mostra bem mais consistente do que na terceira, especialmente nos cinco últimos episódios. Apesar da corrida contra o tempo ajudar a manter a narrativa centrada, a prioridade da série ainda é mostrar como seres humanos com diferentes níveis de maturidade emocional lidam com seus conflitos, com seus traumas e com as consequências de seus erros. Cada um dos episódios nos lembra grandes e pequenos filmes sobre a vida e a passagem do tempo.