Crítica: The Last of Us – 2ª Temporada

The Last of Us, EUA, 2023 – 2025



Max · Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Mesmo com uma narrativa deliberadamente lenta e às vezes irregular, a segunda temporada de The Last of Us consegue transmitir toda a brutalidade e todo o peso emocional de uma história sobre violência, esperança e conexões humanas. Assim como no caso de 1923, a trama é pesada no pessimismo e segue com um típico clima de faroeste. Dessa vez, os personagens lutam contra o que há de pior na natureza humana, seja em seus antagonistas ou em si próprios.

A trama da segunda temporada de The Last of Us é marcada pelo implacável desejo de vingança de Ellie (Bella Ramsey). Cinco anos após os eventos da primeira temporada, ela ainda é uma adolescente que possui fantasias de violência e tenta se mostrar cada vez mais forte e capaz, exibindo um certo anseio por se aventurar fora das paredes da comuna de Jackson em busca da oportunidade de matar infectados.

Esse desejo de projetar uma imagem de força e dureza esconde os medos e as inseguranças que ela não quer que façam parte de sua imagem pública. De certa forma, ela quer ser vista e respeitada da mesma forma que Joel (Pedro Pascal), uma figura paterna na qual ela tenta (ou não consegue evitar) se espelhar. E assim, sua irresponsável e impaciente ousadia vão se tornando alguns dos principais aspectos de sua personalidade.

Por outro lado, Joel já entendeu que não há nada de cool ou glorioso na violência que já faz parte de sua vida há muito tempo. Ele é marcado por muitas cicatrizes psicológicas, causadas tanto pelas pessoas que ele perdeu quanto pelas pessoas que ele matou ao longo do caminho. Para ele, Ellie representa justamente uma oportunidade de se afastar dessa violência e de recuperar parte do que ele perdeu com a morte da sua filha décadas antes, permitindo-lhe a “ousadia” de ter esperança novamente.

O mundo pós-apocalíptico no qual eles estão tem um lado inerentemente violento. Porém, enquanto Joel tenta manter essa violência no mínimo necessário, Ellie a busca com uma empolgação ingênua e imatura. Ainda no segundo episódio dessa temporada, ela ganha um motivo para partir em uma jornada de vingança que pode levá-la a ser consumida por uma escuridão para a qual nem ela e nem sua amiga Dina (Isabela Merced) estão preparadas.

A busca de Ellie e Dina por Abby (Kaitlyn Dever) as coloca no meio do conflito entre a milícia WLF (Washington Liberation Front, também conhecidos como Lobos) e os Serafitas (também conhecidos como Cicatrizes), uma seita de cunho messiânico. Os dois grupos disputam o controle da cidade de Seattle, complicando ainda mais os planos de Ellie.

Além de governos ditatoriais (como o caso do FEDRA, mostrado no primeira temporada), milícias armadas (tanto os Lobos quanto os Vagalumes) e comunas de sobreviventes (que é o caso de Jackson), seitas religiosas representam outro tipo de grupo que poderíamos esperar de um cenário pós-apocalíptico. Assim como no caso dos Serafitas em The Last of Us, a História nos revela muitos casos de populações desesperadas e desamparadas que recorrem a crenças religiosas e a figuras messiânicas para buscar algum tipo de salvação.

Todos esses grupos, incluindo as protagonistas, veem suas causas como corretas e justificadas, estando dispostos a empregar quaisquer práticas que considerem necessárias para alcançar seus objetivos. Essa é uma tendência humana que impede que as pessoas colaborem e que procurem soluções alternativas para seus problemas. Se não fosse pelo medo e pela falta de empatia de algumas pessoas, a grande maioria dos problemas da série e do mundo real poderiam ser resolvidos por bastante colaboração estratégica.

Ao invés disso, tanto Ellie quanto Abby e os demais grupos citados entram em uma espiral de ódio e retaliação, fazendo com que o próprio conflito se torne a justificativa para o conflito. As agressões do passado de tornam mais do que suficientes para justificar as agressões do presente e do futuro. Essa dinâmica é muito bem explorada no filme Guerra Civil, mostrando como as motivações políticas de uma guerra podem estar bem longe das preocupações dos soldados que estão tentando sobreviver no campo de batalha.

O que a trama dessas duas temporadas de The Last of Us mostra é que Ellie ajudou Joel a perceber que a vida não pode ser resumida a matar, retaliar e sobreviver. Agora, tanto Joel quanto Dina precisarão ajudar Ellie a chegar nessa mesma conclusão, antes que ela também cometa atos de violência que irão lhe perseguir pelo resto da vida.

Por mais que algumas das mudanças realizadas na história possam desagradar aos fãs do jogo The Last of Us Part II, a série é muito bem-sucedida em adaptar o material sem necessariamente ser uma simples cópia. Resta esperar que a terceira temporada tenha uma linha narrativa mais fluída e que repita os grandes momentos de drama e de ação das duas primeiras.