Crítica – Planeta dos Macacos: O Reinado

Kingdom of the Planet of the Apes, EUA, 2024



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Por mais que não esteja no mesmo nível que os filmes anteriores, Planeta dos Macacos: O Reinado se mantém fiel ao espírito da franquia, contando uma história focada nos personagens e nas consequências das escolhas que eles fazem. Além disso, o espetáculo visual e as atuações de primeira linha estão de volta em todo seu esplendor.

planeta dos macacos o reinado

Muitas gerações depois dos eventos de Planeta dos Macacos: A Guerra, o protagonista Noa (Owen Teague) precisa lidar com a ameça causada por outros macacos quando eles atacam a sua aldeia e sequestram seus entes queridos. Em sua jornada, ele passa por vários momentos de aprendizado, seja com seus novos aliados ou com o grande antagonista da trama.

Dentre os aliados, os destaques ficam com o orangotango Raka (Peter Macon) e a humana Nova/Mae (Freya Allan). É graças a eles que seu mundo começa a ser expandido de formas que ele jamais imaginava. Mas o rei Proximus Cesar (Kevin Durand) também reserva inúmeras lições para o jovem símio, seja com suas manipuladoras palavras ou com suas impiedosas ações.

O que vemos em O Reinado é que Proximus, com a ajuda do humano Trevathan (William H. Macy), está tentando emular os dias de glória da Civilização Romana. Os desenvolvimentos que ocorrem depois do ataque inicial podem levar o espectador a esperar que a trama vá na direção do filme Gladiador ou mesmo da série Bárbaros. Porém, o caminho seguido aqui é um pouco mais original, apesar de também possuir subtramas de rebeldia e vingança.

Talvez Proximus seja o personagem mais interessante de Planeta dos Macacos: O Reinado, apesar de não possuir tanto tempo de tela. Assim como muitas pessoas na vida real, ele está obcecado com a ideia de repetir um passado idealizado. Ao invés de aprender com as lições oferecidas pela História da humanidade, ele faz o máximo possível para que a nossa História ocorra novamente, com ele em uma posição de poder absoluto.

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Outro ponto interessante no vilão é a fonte de seu poder. Uma vez que o Cesar (Andy Serkis) dos filmes anteriores se tornou uma figura mitológica de natureza messiânica, Proximus utiliza suas palavras de forma distorcida e manipuladora para justificar sua autoridade. Assim como acontece com os ensinamento de Jesus Cristo, o legado de Cesar é utilizado por oportunistas que se apresentam como salvadores, apenas para tirar proveito do desespero de seus fiéis.

Esses elementos nos lembram do vilão do filme O Livro de Eli e do protagonista de Duna: Parte 2. Inclusive, Frank Herbert, autor do romance Duna, já afirmou:

Duna foi direcionado a essa ideia do líder infalível, pois a minha visão da História diz que os erros cometidos por um líder (ou cometidos em nome de um líder) são amplificados pelo número de pessoas que o seguem sem questionamento.

É esse poder sobre as massas que permite que Proximus escravize os macacos das aldeias atacadas pelo seu exército, assim como o vilão humano de Planeta dos Macacos: A Guerra o fez.

E os vilões humanos podem estar de volta. A subtrama da personagem Nova/Mae revela que novas ameaças podem surgir a partir dos humanos. Dessa forma, a jovem civilização que ainda está sendo formada pelos macacos terá que lidar tanto com ameaças internas quanto com ameaças externas. Isso nos lembra a frágil situação na qual Cesar se encontrava durante o filme Planeta dos Macacos: O Confronto, que (na minha opinião) ainda é o melhor dessa nova encarnação da franquia.

Mais uma vez, os efeitos especiais e as atuações por captura de movimento nos fazem esquecer de que o que estamos vendo na tela é, em grande parte, gerado digitalmente. Com a ajuda de uma história envolvente e de um ótimo desenvolvimento de personagens, o espectador dificilmente tem tempo para pensar sobre a altíssima qualidade técnica da produção. Pode-se dizer que O Reinado nos apresenta o que há de mais avançado em termos de suspensão da descrença.

A narrativa tem seus momentos mais lentos e expositivos, mas eles são vitais para estabelecer tanto a situação desse novo mundo quanto os alicerces emocionais dos personagens centrais. Agora que já os conhecemos e já acompanhamos parte de suas jornadas, estamos prontos para conferir como esse futuro reflete o passado da humanidade. Planeta dos Macacos: O Reinado funciona tanto como um blockbuster individual quanto como uma introdução de luxo para essa nova fase da franquia.

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