Crítica – Missão: Impossível – O Acerto Final
Mission: Impossible – The Final Reckoning, EUA, 2025
Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes
★★★★☆
Como episódio final da série de filmes iniciada em 1996 com Missão: Impossível, O Acerto Final até que funciona muito bem. Porém, como um filme isolado, a trama peca pelo excesso com suas quase três horas de corridas contra o relógio. Boa parte do tempo é gasta com explicações sobre a gravidade da situação e sobre as conexões da história com o passado da franquia. Isso, pelo menos, aumenta o impacto dramático de algumas cenas e serve como recompensa para quem assistiu aos oito filmes conforme eles foram lançados ao longo dos últimos 30 anos.
A questão aqui é que a narrativa não tem paciência para desenvolver a história e aclimar o espectador, contando apenas com rápidos lembretes dos capítulos anteriores. Uma vez que a maior parte da apresentação da história e do desenvolvimento dos personagens já ocorreu em Missão Impossível: Acerto de Contas, o filme tenta ir direto ao ponto e não incorpora vários dos elementos característicos da franquia.
Ao invés dos jogos de máscaras e das inteligentes reviravoltas, a trama está focada na ameaça apocalíptica oferecida pela inteligência artificial conhecida como “A Entidade”, o que deixa o filme mais próximo de produções como O Exterminador do Futuro 2 e Controle Absoluto. Porém, dessa vez a Entidade é muito mais um MacGuffin (objeto ou informação que todos os personagens tentam conseguir) do que um verdadeiro antagonista.
Algumas cenas revelam as consequências sociais da atuação dessa IA na Internet, já que ela cria um inédito clima de desinformação e paranoia dentre as pessoas ao redor do mundo. Porém, o grande problema realçado pela trama é o fato de que a Entidade assumiu o controle de boa parte do arsenal nuclear do planeta e pretende utilizá-lo contra a humanidade.
Enquanto Ethan Hunt (Tom Cruise) tenta juntar as peças para destruir a Entidade, os antagonistas Gabriel (Esai Morales) e Kittridge (Henry Czerny) fazem o máximo possível para utilizar as mesmas ferramentas para controlar a IA. Essa corrida contra o relógio também envolve as forças armadas da Rússia, que podem ser consideradas a primeira vítima da Entidade, quando ela afundou o submarino Sevastópol no início de Acerto de Contas.
Paralelamente, o comando central dos EUA, liderado pela presidente Erika Sloane (Angela Bassett, que também interpretou a presidente do país na recente minissérie Dia Zero), tenta decidir como lidar com o desespero geopolítico causado pela ameaça apocalíptica. Apesar da temática ser interessante (e ter sido bem explorada no sétimo episódio da série Paradise), essa é a subtrama mais dispensável de Missão Impossível: O Acerto Final.
Ainda assim, o filme se destaca em dois aspectos centrais. O primeiro deles é a ação, que é o verdadeiro prato principal da produção. As ótimas cenas de lutas e tiroteios não são tão impactantes e memoráveis quanto as dos filmes anteriores, mas servem para manter o espectador entretido enquanto ele espera pelas duas principais sequências de ação.
A primeira delas é a recuperação do código fonte da Entidade no submarino naufragado, momento que se destaca muito mais pelo suspense e pela tensão do que pela adrenalina. Porém, adrenalina é o que não falta na sequência final, na qual Tom Cruise se pendura em dois pequenos aviões monomotores para recuperar um item vital para sua missão.
Esse momento lembra em vários aspectos a composição dos atos finais de Missão Impossível: Protocolo Fantasma e Missão Impossível: Efeito Fallout, nos quais Ethan Hunt e o restante da equipe precisam trabalhar de forma paralela e sincronizada para evitar um grande desastre. A cena inclusive se assemelha à perseguição entre helicópteros de Efeito Fallout, mas consegue ser ainda mais insana, estressante e vertiginosa.
Além da ação, o outro grande destaque de Missão Impossível: O Acerto Final são as muitas referências ao passado da franquia, realçando o aspecto lendário de Ethan Hunt e ressignificando alguns dos acontecimentos do passado. Por exemplo, o filme finalmente revela o que era o cobiçado “pé de coelho”, uma suposta arma biológica que foi o grande MacGuffin de Missão: Impossível 3.
A trama também serve como uma homenagem e como uma continuação para o filme original. Além da presença de Kittridge, o filme faz uma marcante referência ao vilão Jim Phelps (Jon Voight) e traz de volta o analista da CIA William Donloe (Rolf Saxon). Donloe foi o analista que Hunt e sua equipe tiveram que enganar no primeiro filme durante a icônica cena da invasão do cofre da CIA. Como punição por sua falha, ele foi enviado por Kitridge para uma estação da agência no Círculo Polar Ártico, que é onde a equipe o encontra, 29 anos depois, em O Acerto Final.
É graças a essas referências ao passado que o filme funciona como um ótimo veículo de nostalgia e pode até emocionar parte do público. Não se trata apenas da jornada desses personagens, mas também da jornada dos espectadores, que possivelmente estavam em diferentes momentos de suas vidas quando cada um desses oito filmes foi lançado. É uma questão de lembrar não apenas dos sucessos, mas de tudo o que foi vivido e tudo o que ficou para trás ao longo dos anos.
Missão Impossível: O Acerto Final não é um filme perfeito e poderia ser bem mais enxuto e inteligente. Porém, graças a suas muitas referências e aos ótimos momentos de ação, essa acaba sendo uma marcante conclusão para várias décadas de missões tão divertidas quanto inacreditáveis. Nos momentos finais, até Ethan Hunt parece incrédulo de que mais um dos seus elaborados planos deu certo e ele sobreviveu no final.
Ranking dos filmes da franquia Missão: Impossível
Na minha opinião, Missão Impossível: Nação Secreta e Efeito Fallout seguem sendo os pontos mais altos da franquia, sendo seguidos de perto por Acerto de Contas e Protocolo Fantasma. O primeiro Missão: Impossível ainda é um estiloso e imprevisível suspense de ação, contando com alguns do momentos mais icônicos da série.
Já Missão: Impossível 3 pode ser considerado o mais dramaticamente intenso, sendo marcado por uma assombrosa atuação de Philip Seymour Hoffman como o vilão Owen Davian, um dos melhores da série. Ainda assim, Missão: Impossível 3 e Missão: Impossível 2 , que foi dirigido pela lenda do cinema de ação John Woo, podem ser considerados experimentos com limitações que seriam tratadas nos filmes posteriores.
Foi com o quarto filme, Protocolo Fantasma, que a série se reinventou e foi realizando voos cada vez mais altos. Dessa forma, os três primeiros filmes acabam servindo como uma grande história de origem para o lendário Ethan Hunt, revelando os vários traumas pelos quais ele passou até se tornar o personagem lendário apresentado na abertura de Protocolo Fantasma.
Segue abaixo o meu ranking completo, do melhor para o pior:
- Missão: Impossível – Nação Secreta (2015)
- Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018)
- Missão: Impossível – Acerto de Contas (2023)
- Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011)
- Missão: Impossível (1996)
- Missão: Impossível – O Acerto Final (2025)
- Missão: Impossível 3 (2006)
- Missão: Impossível 2 (2000)