Crítica: La Révolution – 1ª Temporada
La Révolution, França, 2020
Com um resultado melhor do que o esperado, série reimagina os primórdios da Revolução Francesa com elementos de fantasia e terror
★★★★☆
É difícil explicar o porque de La Révolution funcionar tão bem quanto funciona. Para começar, ao inserir elementos de fantasia e terror em sua ficção histórica, a série diminui levemente o papel da brutal desigualdade social que levou à eclosão da Revolução Francesa em 1789. Isso poderia dar muito errado e até ofender a memória daqueles instáveis tempos, mas uma narrativa ágil e instigante combinada com um ótimo grupo de personagens fazem dessa primeira temporada uma experiência viciante. Aqui, mesmo os caricatos vilões são bem utilizados e não parecem estar deslocados do resto da história.

É estranho que a série utilize essa metáfora para representar uma situação que literalmente ocorreu naquele mesmo lugar e período, inclusive com o uso do termo sangue azul. Filmes e séries como Expresso do Amanhã (2020) e Nós (2019), sobre os quais escrevi aqui e aqui, transportam as questões sociais e revolucionárias para situações de terror e ficção científica que servem como metáforas (ou microcosmos) para o mundo real. Em La Révolution, a metáfora e a História se misturam de uma forma desnecessária, mas altamente instigante.
Consequentemente, uma sinopse possível serve tanto para a série quanto para a Revolução Francesa: depois que a exploração da população pelos portadores de sangue azul chega a níveis insuportáveis, o povo se levanta e vê como única saída a decapitação de seus exploradores.

Ambientada em 1787 no interior da França, essa primeira temporada serve apenas como uma introdução para a história principal, que ainda está por vir. É apenas nos momentos finais do oitavo episódio que a rebelião começa a marchar em direção a Paris, que é onde o grosso das decapitações vai ocorrer. O que deixa o espectador realmente ansioso pelos próximos desenvolvimentos é ver como os realizadores de La Révolution vão encaixar os eventos históricos, como a Queda da Bastilha, nesse ambiente estiloso e fantasioso.
A produção é seriamente beneficiada pelos efeitos especiais, pela cinematografia e pela primorosa direção de arte, que enchem os olhos tanto nos palácios e paisagens rurais quanto na sujeira e precariedade da vida urbana. Mesmo uma misteriosa narração é inspirada o suficiente para transportar o espectador para o espaço psicológico de pessoas desesperadas pela fome, a ponto de arriscarem tudo em uma rebelião que custará as vidas de muitos delas.
Minha vida toda, vi homens serem humilhados. Vi escravos sendo ameaçados, mulheres sendo jogadas na lama. Senti essa raiva silenciosa dentro deles. Todo dia, eu a vi crescer em seus corações. O que os líderes não sabem é que, um dia, essa raiva se fundirá. Não é uma previsão, é uma certeza. E as vozes de milhares de pessoas anônimas se erguerão e dirão: “Não, não vou mais me render.” E os escravos de ontem serão os rebeldes de hoje.
Outro detalhe que pode deixar o público curioso pelas próximas temporadas de La Révolution é saber se o protagonista Joseph Guillotin se trata de Joseph-Ignace Guillotin, médico que propôs a utilização de um antigo mecanismo para dar um fim mais rápido e humano aos condenados à morte na França; ou de J. M. V. Guillotin, médico que seria executado pelo mesmo mecanismo, que ficou conhecido por uma palavra inspirada no sobrenome que os dois tinham em comum: guilhotina.







