Crítica – Extermínio: A Evolução

28 Years Later, Reino Unido/EUA, 2025



Trailer · Letterboxd · IMDB · RottenTomatoes

★★★★☆


Enquanto Extermínio e Extermínio 2 são filmes de zumbi que possuem elementos de drama, Extermínio: A Evolução pode ser considerado um drama de família que se passa em meio a um apocalipse zumbi. Com tensão quase constante, o filme até possui fantásticos momentos de ação e terror, mas o grande acontecimento do ato final não é uma batalha contra um grande inimigo, mas sim uma emocionante meditação sobre a vida e a morte na superfície do planeta Terra, centralizando-se na expressão latina memento mori.

extermínio a evolução

A narrativa de Extermínio: A Evolução não é sobre uma luta pela sobrevivência, mas sim sobre a jornada de amadurecimento do jovem de 12 anos Spike (Alfie Williams). Ele e seus pais, Jamie (Aaron Taylor-Johnson) e Isla (Jodie Comer), fazem parte de uma comunidade localizada em uma ilha na costa da Grã-Bretanha, isolados das hordas de zumbis que a habitam. Sem médicos no local, pai e filho precisam lidar com a misteriosa doença de Isla, que lhe causa fortes dores, variações de humor e perda de memória.

A trama também traça um paralelo entre a História do Reino Unido e esses últimos sobreviventes da nação. Mais especificamente, a narrativa faz referências à tradição militar britânica, mostrando que mesmo nessas condições extremas há improváveis repetições. Quando Jamie e Spike partem em uma expedição para o continente, a trilha sonora faz uso de uma inquietante recitação do poema Boots, uma obra na qual o autor tenta reproduzir a monótona e enlouquecedora repetição da marcha dos soldados durante uma das muitas guerras travadas pelo Reino Unido.

E quando Jamie e Spike começam a usar seus arcos e flechas, as imagens são intercaladas com cenas de filmes representando o uso do arco longo inglês durante a Idade Média. Essa icônica arma, que deu uma boa vantagem para os ingleses durante algum tempo, agora é a principal ferramenta para os sobreviventes se defenderem dos infectados, já que não parecem ter acesso a armas de fogo. Uma das batalhas nas quais o arco longo foi decisivo para os ingleses foi a Batalha de Azincourt, que foi dramatizada no filme O Rei.

Um dos motivos para se traçar esses paralelos está no interesse que o roteiro de Alex Garland tem na mentalidade de alguns dos personagens. Tanto Jamie quanto o personagem Erik (Edvin Ryding) estão em busca de glória e grandiosidade no campo de batalha. Enquanto Erik entrou no exército para sentir que estava fazendo algo significativo com sua vida, Jamie se mostra incrivelmente orgulhoso e empolgado quando seu filho participa de sua primeira expedição e mata seu primeiro infectado, chegando a exagerar quando reconta os feitos do garoto.

Essa temática militarista está presente desde Extermínio, que também foi escrito por Garland. Nos três filmes, parte das forças militares acabam se voltando contra os sobreviventes e se tornam ameaças. Garland também aborda a temática dos homens condicionados para a violência e para a guerra em filmes que ele escreveu e dirigiu, como Guerra Civil e o recente Tempo de Guerra.

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Estranhamente, o ato final de Extermínio: A Evolução não mostra a superação de um último grande antagonista, mas sim um poderoso e emocionante momento dramático. Com a introdução do Doutor Kelson (Ralph Fiennes), o filme passa a focar em rituais fúnebres e no respeito pelos mortos. Enquanto Jamie se divertia matando e insultando os infectados, Kelson passou anos realizando funerais (tanto de infectados quanto de não-infectados) e erguendo um monumento em homenagem às vidas que aquelas pessoas tiveram até encontrarem seus fins.

Dessa forma, a “torre de crânios” montada por Kelson acaba sendo muito menos um monumento macabro e muito mais um lembrete do longo percurso percorrido pela humanidade e por todas as pessoas que já passaram por esse mundo. Para Kelson, a torre serve como um lembrete de que cada um daqueles crânios pertenceu a uma pessoa; e cada uma daquelas pessoas teve suas próprias experiências, seus próprios medos, suas próprias preferências e suas próprias trajetórias, até chegarem ao inevitável fim. Ele sabe que, se tudo der certo, chegará o momento no qual seu próprio crânio fará parte dessa homenagem.

E ele também sabe que, apesar de tudo isso, a vida dá um jeito de seguir em frente, mesmo durante um apocalipse zumbi. É apenas depois de ficar cara a cara com essa realidade que Spike, presenciando o fim de uma vida e o começo de outra, começa a ficar pronto para realmente lidar com a estrada que ele tem adiante. Como Kelson diz, memento amoris (“lembre-se do amor”).

Esteticamente, o diretor Danny Boyle faz uso de diversos truques de câmera e de edição que eram mais comuns em produções britânicas do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, presentes tanto no trabalho do próprio Boyle quanto nas obras de diretores como Guy Ritchie e Edgar Wright. Isso dá ao filme uma estilosa e até mesmo nostálgica atmosfera de “pesadelo pop”, especialmente quando finalmente introduz o caricato estilo da gangue liderada pelo Sir Jimmy Crystal (Jack O’Connell).

Ao invés de concluir uma trilogia, Extermínio: A Evolução está começando outra. Dirigido por Nia DaCosta, Extermínio: O Templo de Ossos foi filmado junto com A Evolução e deve ser lançado no início de 2026. Futuramente, Danny Boyle volta para dirigir o quinto e último filme da franquia.

Por enquanto, A Evolução expande o universo da franquia ao introduzir novos personagens e novos (e aterrorizantes) tipos de zumbis, além de nos mostrar a intensa e emocionante história de origem de Spike, que também deve ser um dos personagens centrais do próximo filme.