Crítica: Deadpool 2

Deadpool 2, EUA, 2018



Mais engraçado, mais violento, mais Deadpool

★★★★☆


Deadpool 2 é bem sucedido ao ir mais fundo na mitologia do anti-herói, apesar de deixar tanto Cable (Josh Brolin) quanto a X-Force em segundo plano. Ainda assim, os vários centros dramáticos da trama são devidamente equilibrados ao redor do protagonista, que tem que lidar com questões bem mais sérias do que as abordadas no primeiro filme. O resultado é uma narrativa muito mais engraçada e dinâmica que a do original, mas sem cair no cinismo e niilismo que poderiam resultar do mórbido pessimismo e humor negro de Deadpool (Ryan Reynolds).

O primeiro ato é claramente inspirado na série de quadrinhos escrita para o personagem por Daniel Way a partir de 2008, na qual Deadpool decide que a melhor coisa que ele pode fazer da vida é… morrer. Infelizmente (eu acho), seus poderes de regeneração não facilitam em nada essa “missão” e ele percebe que é praticamente imortal. Nos quadrinhos, ele parte em uma jornada em busca da mortalidade. Já em Deadpool 2, ele tenta encontrar algo que irá colocar seu coração no “lugar certo”.

Ele parece encontrar a resposta quando conhece Russel (Julian Dennison), um jovem e problemático mutante (de poderes incendiários) que claramente precisa de uma figura paterna. A trama se complica com a chegada de Cable, um mutante do futuro que tem a missão de matar Russel devido aos crimes que o garoto cometeria quando se tornasse adulto. Para defendê-lo, Deadpool monta uma equipe de super-heróis intitulada X-Force, cujo destaque fica com a mutante Dominó (Zazie Beetz), que também é um dos destaques do filme. Obviamente, pouquíssimos detalhes do plano de Deadpool saem de acordo com o esperado (não foi por falta de aviso) e ele é obrigado a improvisar da metade do filme em diante.

Talvez Deadpool 2 seria um filme mais “redondo” se focasse em uma trama sobre Deadpool, Cable e a X-Force, mas isso reduziria essa continuação a uma história de origem da equipe de mutantes, que já tem um filme previsto para 2019. Nos quadrinhos, a proposta da X-Force era ser uma equipe mais sombria e adulta que os X-Men, sendo responsável por fazer o trabalho sujo que os jovens liderados por Xavier não estavam dispostos a fazer. Sua primeira encarnação foi liderada por Cable, cuja rigidez e autoritarismo também causou seu desmanche. Uma outra encarnação foi liderada por Ciclope, que estava disposto a usar força letal contra as ameaças aos mutantes.

Porém, ao invés de mais uma história de origem, o que se tem aqui é uma das melhores comédias do ano. Com menos quebras da quarta parede, o humor provém sobretudo das interações entre Deadpool e novos e velhos personagens. Dentre os já conhecidos, os destaques ficam com o taxista Dopinder (Karan Soni) e os mutantes Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) e Colossus (Stefan Kapicic). Dentre os novos, Dominó é uma das heroínas mais engraçadas e descoladas que já chegaram ao cinema. Seu super-poder, que é ter muita sorte, permite que Beetz a interprete com leveza e despreocupação deliciosamente contrastantes do resto da trama. Ela acaba roubando parte da atenção que poderia ser destinada a Cable, mas talvez seja melhor assim.

E para entender muitas das piadas é preciso ter um conhecimento básico de cultura pop e do mundo do entretenimento em geral. A cena inicial já faz uma hilária referência a Logan (crítica aqui), último filme de Hugh Jackman como Wolverine, que é uma mistura de inimigo, rival e ídolo de Deadpool. A partir daí as referências não param, passando por Frozen, Robocop e até por trabalhos anteriores de Reynolds. Os créditos iniciais rolam ao som de “Ashes”, música que Celine Dion fez para a trilha sonora do filme. No clipe da canção, pode-se ver que a cantora entrou na brincadeira e conseguiu permanecer interpretando seriamente enquanto o mercenário dança e faz piruetas ao seu redor.

Com muitas surpresas e até mesmo uma positiva mensagem de esperança e redenção, Deadpool 2 é uma aventura completa do mercenário tagarela e uma introdução razoável para Cable e a X-Force. Se o estúdio fizer algumas correções de curso e fazer respeito ao histórico da equipe, ele terá garantida mais uma franquia de sucesso. Mas dessa vez, para o público adulto.

Comentários com Spoilers

Já li alguns comentários de fãs que ficaram decepcionados por não verem a equipe X-Force como apresentada nos trailers. Porém, a morte prematura (e hilária) da maior parte da equipe durante um previsivelmente catastrófico salto de paraquedas faz mais sentido do que tentar introduzir todos aqueles personagens nesse filme. Bedlam (Terry Crews), Zeitgeist (Bill Skarsgård), Shatterstar (Lewis Tan), Peter (Rob Delaney) e Vanisher (isso mesmo, Brad Pitt) são ótimos personagens e talvez protagonizariam ótimas cenas de ação, mas certamente não seriam bem desenvolvidos. Mesmo Cable fica sub-desenvolvido, enquanto continuamos sabendo quase nada das origens de Dominó.

A grande aparição surpresa de Deadpool 2 é a de Fanático (interpretado por Ryan Reynolds e pelo diretor David Leitch), em toda sua grandiosidade. O vilão já havia aparecido em X-Men: O Confronto Final, mas não foi tão impressionante. Aqui, ele já começa derrubando um viaduto e partindo Deadpool ao meio.

Uma última referência às origens de Deadpool é o dispositivo de viagem no tempo que ele rouba de Cable. Em uma (ou mais) de suas séries nos quadrinhos, uma das características marcantes do herói é que ele possuía um dispositivo de teletransporte. Não seria estranho se o dispositivo novamente apresentasse um “defeito” e passasse a transportá-lo entre diferentes pontos do espaço, ao invés do tempo. Apenas imagine o potencial cômico do mercenário tagarela com um desses.

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