Crítica: A Noite das Bruxas

A Haunting in Venice, EUA, 2023



Trailer · Filmow · IMDB · RottenTomatoes

★★★☆☆


Depois de Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo, o renomado detetive belga Hercule Poirot (Kenneth Branagh) volta às telas para solucionar um mistério com fortes elementos sobrenaturais. O inquietante clima de terror de A Noite das Bruxas é a principal novidade desse capítulo, apesar de não ser o suficiente para elevar o material para além do básico. Assim como os anteriores, o filme complementa o mistério com ideias e reflexões que servem como contraponto para a previsibilidade da fórmula que está sendo empregada.

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Dessa vez, as ideias exploradas estão relacionadas à necessidade que os personagens têm de acreditar nos fenômenos sobrenaturais. Enquanto Poirot segue obcecado com a racionalidade, a maior parte dos outros personagens parece estar mais do que disposta a acreditar que a senhora Reynolds (Michelle Yeoh) realmente irá colocá-los em contato com os espíritos dos mortos. Reunidos durante a noite do Dia das Bruxas no antigo casarão veneziano pertencente a Rowena Drake (Kelly Reilly), os convidados logo são surpreendidos por um assassinato.

A trama ressalta a tendência que as pessoas têm de continuar acreditando naquilo que elas já acreditam. Quando a misteriosa morte acontece, alguns dos personagens imediatamente partem para explicações sobrenaturais. Para eles, o evento serve apenas para confirmar as histórias que dizem que o casarão é mal-assombrado. Dessa forma, o viés de confirmação impede que eles analisem o acontecimento de forma racional e imparcial.

Esse aspecto da trama de A Noite das Bruxas nos faz lembrar do filme O Milagre, no qual o conflito entre crença e racionalidade também se torna uma questão de vida ou morte. Esse outro filme ressalta o poder que as histórias têm sobre as pessoas, pois, independente de serem reais ou fictícias, elas moldam as nossas visões de mundo e as nossas ações. As histórias que a humanidade vem transmitindo há inúmeras gerações representam um ótimo mecanismo para lidarmos com a dureza da realidade, mas elas também podem nos levar longe demais em mundos de pura fantasia.

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É em um cenário como esse que Poirot tenta enxergar os fatos escondidos pela névoa de medo e superstição. Sua busca pela realidade por trás do mito da casa mal-assombrada é prejudicada por sons e visões que desafiam sua racionalidade e sua capacidade analítica. Sua amiga Ariadne (Tina Fey) insiste que o grande Poirot finalmente encontrou um mistério que não pode solucionar e, assim como os outros, o detetive terá que aceitar a natureza sobrenatural dos eventos daquela noite.

Apesar dessa temática, A Noite das Bruxas ainda é uma clássica e convencional história de detetive, com o protagonista trancando todos os suspeitos em um espaço confinado até que o assassino seja revelado. Não há aqui um esforço para subverter esse subgênero, como foi feito em filmes como Entre Facas e Segredos e Glass Onion, mas apenas uma tentativa de deixá-lo um pouco mais interessante que o normal, como o feito em Veja Como Eles Correm.

A Noite das Bruxas é o capítulo mais refinado nessa trilogia dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, apesar de Morte no Nilo ainda ter mais profundidade em termos de arcos dramáticos. Enquanto esse nível de refinamento for mantido, Branagh talvez tenha um público garantido para sua série de filmes, mas também seria um boa ideia pensar em formas de subir o nível da franquia.

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