Crítica: Casa de Dinamite

A House of Dynamite, EUA, 2025



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★★★★☆


A má notícia aqui é que Casa de Dinamite não nos oferece uma história completa, com início, meio e fim. Ao invés disso, a trama dirigida por Kathryn Bigelow se limita a apresentar um desesperador e verossímil cenário de pesadelo. Mais que isso, o filme nos lembra de que esse pesadelo é a nossa atual realidade, com mais de 12.000 ogivas nucleares existentes sob o controle de algumas poucas forças armadas. De acordo com estimativas, o uso de aproximadamente 400 dessas ogivas em uma guerra nuclear seria o suficiente para tornar a vida humana na Terra insustentável.

casa de dinamite rebecca ferguson

Em um dia de trabalho como qualquer outro, as centrais de monitoramento dos EUA detectam um míssil balístico intercontinental sobrevoando o Oceano Pacífico. Inicialmente, a detecção é tratada como um possível erro ou como mais um teste de mísseis da Coreia do Norte, com especialistas esperando que o objeto caísse no oceano em algum momento. Porém, a trajetória calculada por sistemas mais avançados indica que a arma está destinada a alguma cidade no centro dos EUA.

Na sequência, Casa de Dinamite apresenta as reações de três diferentes grupos responsáveis pela análise da situação e por uma possível retaliação, repetindo a mesma janela de tempo para cada um deles. O filme faz um ótimo trabalho em mostrar como decisões que podem custar as vidas de milhões de pessoas devem ser tomadas em poucos minutos por lideranças que ainda não entendem todo o contexto da situação. A única coisa que eles sabem é que em menos de 20 minutos uma grande cidade dos EUA provavelmente será aniquilada por uma arma nuclear.

A trama realça parcialmente a atual situação geopolítica, com os analistas tentando imaginar qual potência nuclear pode ter realizado o ataque e por qual motivo. Além disso, a urgência das decisões revela o quão diferente uma guerra nuclear pode ser de uma guerra convencional. Com um míssil balístico a caminho e sem saber se ele será seguido por ataques subsequentes, os líderes militares estão menos preocupados em saber “quem foi” e muito mais preocupados com a possibilidade dos EUA serem devastados antes de lançarem uma retaliação.

Dessa forma, estima-se que uma guerra nuclear seria um conflito com base no “tudo ou nada”. Uma vez que a primeira agressão é realizada, nem a vítima e nem o agressor podem se dar ao luxo de deixar o tempo passar ou esperar uma comunicação oficial. Nos cenários reais, as potências nucleares partem do pressuposto de que o outro lado está interessado em lhes aniquilar completamente antes haja tempo para retaliar.

É por isso que o ramo da estratégia nuclear é marcado por doutrinas como a da destruição mútua assegurada ou da guerra preventiva, ou mesmo pela teórica Opção de Sansão supostamente adotada por Israel. O que se imagina é que não haveria realmente vencedores em uma guerra nuclear, mas, no máximo, sobreviventes. Foi por causa disso que cientistas nucleares da Universidade de Chicago criaram o famoso Relógio do Juízo Final.

Casa de Dinamite lembra produções como Maré Vermelha e Decisão de Risco, nas quais lideranças militares precisam tomar decisões críticas mesmo com informações incompletas. Por apresentar um cenário potencialmente apocalíptico, a trama também remete a duas outras produções da Netflix: Não Olhe Para Cima e O Mundo Depois de Nós.

Em termos de terror e ansiedades existenciais, Casa de Dinamite é comparável à minissérie Chernobyl e com o fantástico episódio de flashback da primeira temporada de Paradise. Essas são tramas que nos lembram da fragilidade da vida sobre a Terra, seja pelo poder da natureza ou pelas ferramentas que nós mesmos desenvolvemos para causar a nossa extinção. Fica claro que uma das principais motivações para a realização desse filme é o fato de que ainda há países procurando desenvolver esse tipo de armamento, além do fato de que há potência nucleares que não descartam o seu uso, como a Índia e o Paquistão.

De certa forma, Casa de Dinamite também pode ser considerado uma continuação do intenso Oppenheimer, que dramatiza os esforços para a construção da primeira bomba atômica.

Em determinado ponto desse novo filme, o presidente dos EUA (interpretado por Idris Elba) diz que ouviu alguém descrever o nosso mundo como uma “casa de dinamite”, com paredes que estão prontas para explodir a qualquer momento. Essa analogia também é válida se a levarmos para o conto de fadas dos Três Porquinhos, com a diferença de que uma “casa de dinamite” não precisa de um “lobo mau” para colocar em risco a existência de seus habitantes.

Apesar dos esforços do ótimo elenco, a trama de Casa de Dinamite não se destaca pelos dramas pessoais dos personagens, mas sim pelo drama e pela tensão causada pela existência de armas nucleares em nosso mundo. A história não nos oferece respostas ou qualquer tipo de resolução. Na prática, as explicações não importam, já que a trama deixa o espectador com a certeza de que o mundo será um lugar muito pior depois daquele ataque inicial, independente do desfecho ou de quem foi o seu autor.