Crítica: O Destino de Uma Nação
Darkest Hour, Reino Unido, 2017
Filme faz um retrato “limpo” e teatral de Winston Churchill durante um dos momentos mais críticos da História do Reino Unido
★★★☆☆
O Destino de Uma Nação cobre a ascensão ao poder e o primeiro mês de governo de Winston Churchill (interpretado por Gary Oldman), o admirado político que liderou o Reino Unido durante uma das maiores ameaças existenciais enfrentadas por aquela nação. Porém, essa dramatização foca mais nos aspectos grandiosos e lendários do que nos aspectos humanos do personagem. Em outras palavras, pode-se dizer que esse é um retrato fiel da “lenda” de Winston Churchill, e não um estudo detalhado e imparcial de sua personalidade.

Em seu círculo pessoal, destacam-se seu relacionamento com sua esposa Clemmie (Cristin Scott Thomas), que já estava acostumada com o temperamento difícil e hábitos questionáveis do marido (dificilmente ele é mostrado sem um charuto e/ou um copo de uísque na mão), e sua secretária Elizabeth Layton (Lily James), que passa do horror para a admiração para com seu chefe. Na vida real, Layton só começou a trabalhar para Churchill um ano após os eventos mostrados no filme, o que é apenas uma das muitas modificações que os cineastas fizeram na história.
Talvez a principal modificação foi a adição de um episódio completamente fictício nesse relato: uma viagem de metrô que Churchill faz para entrar em contato direto com a população e entender o que ela pensa sobre a situação política da nação. Além de desnecessária e mal executada, essa cena evidencia o objetivo dos cineastas em mostrar Churchill como um herói popular, ao invés do político aristocrata e imperialista que ele era. Por outro lado, a cena é 100% compatível com a figura simbólica que é Winston Churchill, que se destaca em termos de popularidade mesmo diante dos muitos séculos de história britânica.
O motivo dessa popularidade foi a liderança decisiva e os discursos inflamados (nem sempre fiéis aos fatos) com os quais ele conseguiu incentivar a classe política, o exército e a população em geral a continuar resistindo aos ataques nazistas. E, por aproximadamente 2 anos, o Reino Unido resistiu sozinho a uma das mais impressionantes máquinas de guerra já montadas pela humanidade. Mais do que um político hábil, Churchill era um artista das palavras, a ponto de ser agraciado com um Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra, o que inclui seus históricos discursos durante a Batalha da França (Blood, toil, tears, and sweat, Nós Lutaremos nas Praias e This was their finest hour). Quando John F. Kennedy concedeu a Chruchill um título de cidadania honorária, o presidente afirmou: “ele mobilizou a língua inglesa e a enviou para a batalha.”

A narrativa linear e absolutamente convencional de O Destino de Uma Nação dá espaço para que Gary Oldman, sob bastante maquiagem, domine a tela com uma atuação intensa e virtuosa. Se não fosse pelo ator, não haveria muito o que assistir aqui, e a projeção poderia ser facilmente substituída por 30 minutos de leitura sobre os acontecimentos daquela época no Parlamento e no Gabinete de Guerra. Entretanto, o espectador é presenteado com uma atuação hipnotizante de Oldman, que já deve estar na mira das premiações de 2018.
O Destino de Uma Nação cumpre o papel a que se propõe, sendo um relato quase documental dos primeiros trinta dias de Churchill como primeiro-ministro. Sem nunca adicionar altas doses de suspense ou mesmo drama, a única carta na manga que o diretor Joe Wright tem para manter o espectador interessado é o Chruchill de Oldman, que não decepciona nessa tarefa. Ainda assim, o filme deixa a sensação de ser uma oportunidade perdida de se fazer uma cinebiografia grandiosa, empolgante e definitiva desse grande personagem.







