Crítica: Um de Nós (Deixe-o Partir)

Let Him Go, EUA, 2020



Faroeste eleva uma história básica graças a uma execução quase perfeita da mistura de gêneros

★★★★☆


É quase impossível não comparar Um de Nós com a série Yellowstone (resenha aqui). Além de contarem com a presença de Kevin Costner, as duas produções podem ser consideradas faroestes modernos e lidam com temas como família, luto e violência na América rural. Apesar do escopo menor, o filme funciona de forma surpreendente boa, com momentos dramáticos que são genuinamente emocionantes e momentos de tensão que são incrivelmente tensos. Até os aspectos de romance representam uma surpresa positiva aqui.

Felizmente, a narrativa não tem pressa em chegar ao suspense. O ritmo se mantém lento e contemplativo enquanto o casal formado George (Kevin Costner) e Margaret Blackledge (Diane Lane) viaja pelas belas paisagens dos estados de Montana e Dakota do Norte em busca do neto desaparecido. Depois de se casar novamente, Lorna (Kayli Carter), viúva do filho do casal, se muda da cidade sem avisar aos avós do pequeno Jimmy (Otto e Bram Hornung) para onde está indo, deixando-os preocupados o suficiente para pegarem a estrada em busca de mãe e filho.

O novo marido de Lorna é o problemático Donnie Weboy (Will Brittain), que a leva para o recluso rancho de sua família. Os Weboy lembram em muitos aspectos a família de criminosos no centro do aclamado drama australiano Reino Animal, especialmente por serem liderados por uma matriarca impiedosa e implacável. Blanche Weboy (Lesley Manville) é uma mulher endurecida pela vida e pelo oeste americano, e parece acreditar que a única forma de criar seus filhos é por meio da dureza e da violência.

Não há grandes reviravoltas em Um de Nós, mas o espectador pode ser surpreendido pelo desconfortável nível de tensão e violência nos três momentos nos quais os Blackledge encontram os Weboy. Os diálogos são tensos o suficiente para provocar a sensação de que qualquer passo em falso pode causar uma explosão de violência. E quando a violência finalmente chega, ela é um pouco mais intensa do que se podia esperar.

A jornada dos Blackledge também é uma jornada pelo luto do casal. A morte do filho que havia acabado de se tornar pai os pega de surpresa e eles se agarram à criança como último “pedaço” do rapaz nesse mundo. É a insistência de Margaret em não perder contato com a criança que os coloca na estrada e os dão a oportunidade de processar sentimentos sobre o passado, sobre o futuro e sobre seja lá o que eles estão tentando recuperar. A diferença de pontos de vista entre os dois é perfeitamente representada na cena em que, enquanto George insiste em lembrar que eles já não são jovens, Margaret insiste em dizer que eles ainda não são velhos.

Os grandes destaques de Um de Nós são o roteiro e a direção de Thomas Bezucha, que elevam uma história que poderia facilmente ter sido mal adaptada para as telas. É graças a uma execução quase perfeita que o filme funciona tão bem e justifica a própria existência. Algo assim poderia ter beneficiado consideravelmente o recente faroeste Relatos do Mundo (crítica aqui), que só funcional razoavelmente bem graças às ótimas atuações da dupla de protagonistas. Em pleno século 21, os faroestes sempre vão precisar de um algo a mais para se justificarem.

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