Crítica: Operação Invasão 2

The Raid 2: Berandal, Indonésia, 2014



Filme ultra-violento de artes marciais leva o gênero a um próximo nível

★★★★☆


Em Operação Invasão 2, o que era pra ser apenas um festival de pancadaria acaba se tornando uma fantástica experiência cinematográfica. Quem assistiu o primeiro e já cult Operação Invasão, tem uma ideia do que estou falando, mas essa sequência sobe o tom da história, do drama das personagens e, é claro, das cenas de ação. Considerando aqui o sub-gênero dos filmes de artes marciais, o filme vai além de seus limites e pisa no território dos filmes de arte, impressionando até os menos empolgados pelo gênero. É por isso que “Operação Invasão 2” já nasce cult e merece ser assistido várias vezes.

No primeiro filme, um esquadrão de assalto da polícia é encarregado de invadir um prédio controlado por um poderoso traficante. A missão é secreta e quase impossível de ser realizada, pois o prédio é guardado por um pequeno exército fortemente armado. O filme se passa inteiramente dentro do prédio e segue o desdobramento dessa missão, durante o qual muitas revelações são feitas e uma trama muito mais complexa e multifacetada é revelada. Quem acaba ficando no olho desse furacão é o novato Rama (Iko Uwais), que descobre ter questões pessoais a serem resolvidas dentro daquele exato prédio. No caminho até o último andar, presenciamos algumas das cenas de lutas mais impressionantes dos últimos tempos. Ferozes, viscerais, velozes e incrivelmente bem coordenadas e filmadas. “Operação Invasão 2” tem início algumas horas após a épica luta final do primeiro filme, e Rama (e alguns dos outros sobreviventes) tem que lidar com as consequências do que ocorreu naquele prédio. A única opção que lhe é dada é a de tentar terminar o que foi iniciado ali, o que ele aceita com o intuito de proteger sua família e vingar um ente querido. Para isso ele terá que se infiltrar em uma das maiores organizações criminosas da cidade e tentar sobreviver à um conflito entre mafiosos. Essa sequência segue a estrutura de um filme de máfia, com muitos dos elementos conhecidos aos fãs do gênero: policiais infiltrados, poderosos patriarcas, chefões ascendentes em busca de território, traições em família, etc.

As lutas entre Rama e as pequenas multidões de atacantes continuam tão impressionantes quanto no primeiro. Vale destacar a caótica e generalizada briga no lamacento pátio de uma prisão, no qual duas facções rivais e a polícia se enfrentam impiedosamente. Não é uma questão de qual dos lados vai ficar com menos hematomas, mas sim de qual dos lados vai ficar com menos crânios esmagados, gargantas dilaceradas, membros retorcidos, vísceras abertas ou pedaços de metal, madeira ou vidro enfiados no corpo. Esse é o mesmo nível de violência do primeiro filme e a coisa toda beira o gore. O que impressiona é como aquela arte marcial indonésia (Pencak Silat) pode ser tão graciosa e violenta ao mesmo tempo, permitindo que seus especialistas “dancem” e se dilacerem durante as principais lutas. E esse é apenas um dos pontos nos quais o elenco do filme se destaca. Os dois filmes perderiam muito de seu peso se não fosse pela ótima atuação de Iko Uwais, que consegue transmitir perfeitamente toda a angustia, desespero e mesmo a tranquilidade de Rama, um rapaz simples (que sabe-se lá porque é altamente treinado em artes marciais) que se vê no meio de uma guerra contra os poderosos criminosos da cidade.

http://www.youtube.com/watch?v=Pg6IiGjJyM4

Mas se Rama é o responsável por boa parte da carga dramática, são os vilões que carregam boa parte do que há de mais cool e estiloso na execução desse filme. O trio principal de assassinos é uma atração à parte e lembra o estilo de Tarantino em “Kill Bill”. Mesmo que não saibamos seus nomes e que tenham pouquíssimas falas, eles são construídos de uma forma marcante e se expressam quase que exclusivamente por meio das artes marciais. O Assassino é o mais experiente deles e só vemos algum vestígio de emoção humana em seu rosto quando ele percebe que está diante de um adversário à sua altura e que terá uma ótima luta a seguir. Sorriso contido e um olhar empolgado. Já O Homem Com O Taco de Baseball é um jovem rapaz que anda o tempo inteiro com o capuz de seu moletom cobrindo a cabeça e arrastando um taco de baseball onde quer que vá; o que ele é capaz de fazer com esse taco durante uma luta consegue ser impressionante. Outro detalhe interessante é a forma calma e quase apática com a qual ele diz “devolva a minha bola” depois de atacar alguém violentamente com uma bola de baseball. Já a bela e elegante Garota do Martelo, anda sempre impecável e, em determinada cena, retira de sua bolsa de grife dois martelos velhos e surrados, que ela irá utilizar para quebrar os ossos e rasgar a carne de uma meia dúzia de guarda-costas em um vagão de trem.

Se não pelas lutas, esse é um filme que vale a pena ser assistido pela sua cinematografia. São os belos e estilosos enquadramentos que dão a essa obra uma pegada artística e até mesmo reflexiva em alguns momentos. Além disso, os impressionantes e engenhosos planos sequência durante uma fantástica perseguição automobilística te fazem pensar no trabalho que foi realizar aqueles takes. Nesse vídeo, podemos ver que em determinados momentos a câmera tinha que ser fisicamente passada de um carro para outro e quais artifícios a produção utilizou para possibilitar isso (spoiler do vídeo: um dos bancos do carro é um operador de câmera “disfarçado”). Em outros momentos, o trabalho de câmera te coloca dentro das lutas, utilizando ângulos e movimentos nada convencionais para fazer o espectador participar daquela experiência. Esses efeitos são potencializados pela rápida e alucinante edição, que também ficou a cargo de seu escritor e diretor Gareth Evans. Graças a esses dois filmes, ele vem se destacando como um dos principais diretores de ação da nossa época.

Apesar de ser aclamado pela crítica, ter participado do circuito de vários festivais importantes e da distribuição mundial da Sony Pictures Classics, não consegui encontrar uma previsão de quando esse filme chega oficialmente ao Brasil. Pra piorar, provavelmente ele chegará direto em DVD/Blu-Ray, pois foi um fracasso na bilheteria norte-americana, mesmo estreando em amplo circuito. Com toda essa qualidade cinematográfica, seria uma experiência e tanto vê-lo na tela de cinema. Por enquanto, temos a Internet.

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