Crítica: La Casa de Papel – Parte 4

La Casa de Papel – Parte 4, Espanha, 2020



Nova temporada arrasta o espectador por uma maratona de tensão e sofrimento ao longo de 8 episódios

★★★★☆


La Casa de Papel volta mais intensa do que nunca na Parte 4. Enquanto sua fórmula continua sendo seguida à risca, a narrativa adiciona riscos mais altos e ameaças mais implacáveis para serem enfrentadas pelo grupo de assaltantes liderado pelo Professor (Álvaro Morte). Isso faz com que o impacto emocional de alguns dos desenvolvimentos e revelações seja ainda maior (e mais devastador) do que nas temporadas anteriores.

A improvável premissa da série e seus exagerados acontecimentos podem ser demais para quem prefere histórias mais “pé no chão”, mas, uma vez que o espectador se deixa levar pela insanidade e imprevisibilidade desse grupo de anti-heróis, é improvável que ele irá abandoná-las. Seu estilo lembra as loucuras de séries como Stranger Things, Orphan Black e Star Trek: Discovery.

Isso não que dizer que La Casa de Papel não tenha seus defeitos, que vêm na forma de algumas desnecessárias subtramas, como a de de Arturito (Enrique Arce), e em inconsistências no comportamento de alguns dos vilões, que às vezes agem em desacordo com o que foi estabelecido em suas personalidades. Não chegam a ser muito graves, mas com certeza permitem que a atenção do espectador se disperse em alguns momentos.

Os quatro primeiros episódios da Parte 4 são focados na tensão psicológica e no completo descontrole da situação, com o plano do Professor saindo dos trilhos de uma forma para a qual não parece haver recuperação. À medida que os episódios avançam, vai ficando cada vez mais difícil para o espectador enxergar uma saída para a situação absurda na qual o grupo se colocou. Se nas partes anteriores era quase sempre possível contar com a mão firme do Professor na condução dos eventos, dessa vez o espectador é deixado à deriva durante a maior parte dos episódios.

Isso muda na segunda metade da Parte 4. Mesmo antes do Professor recuperar o controle, o grupo tem sua missão “simplificada” graças à ascensão de um implacável vilão, que se assemelha a um “mal antigo” sobre o qual os assaltantes já haviam sido alertados: Gandía (José Manuel Poga) é um dos seguranças do Banco da Espanha e um ex-militar com gosto pela matança. Como um monstro faminto e silencioso que se esgueira pelos corredores do prédio, o personagem transforma alguns dos episódios em angustiantes histórias de terror.

Mas essa nova leva de episódios também traz algumas surpresas positivas. Tóquio (Úrsula Corberó) finalmente dá os primeiros sinais de maturidade e consegue realmente liderar a equipe durante algum tempo. Em uma temporada na qual a maioria dos personagens parece estar agindo no “Modo Tóquio”, é ela quem consegue controlar a impulsividade e não reagir de forma inconsequente durante a maior parte do tempo.

O “retorno” de Berlim (Pedro Alonso) por meio de flashbacks continua funcionando muito bem, a ponto do personagem ainda ser um dos favoritos do público. Sua intoxicante paixão pela vida, pela arte, pelo amor e por todas as coisas que estimulam positivamente os nossos sentidos o torna uma presença cativante e hipnotizante. Isso é potencializado pela empolgante atuação de Pedro Alonso, que dá ao personagem um ar tão leve quanto ameaçador, seja experimentando uma taça de vinho, seja fazendo um uso nada convencional de um garfo.

Dessa vez, por mais que Gandía, Sierra (Najwa Nimri) e Tamayo (Fernando Cayo) sejam ótimos antagonistas, a morte é o grande inimigo. Enquanto o Professor segue acreditando que Lisboa (Itziar Ituño) foi executada pela polícia, Nairóbi (Alba Flores) entra em uma épica batalha por sua vida. O tiro que ela levou nos momentos finais da Parte 3 estabelece o tom dos obstáculos que ela tem que superar, seja na mesa de operações ou nos corredores e subsolos do Banco da Espanha. E ela luta ferozmente tanto pela família que encontrou naquele grupo de desajustados quanto pela esperança de uma nova vida trazida por Ibiza.

Mas uma das maiores ameaças ao grupo vem de dentro. O amargo e egoísta Palermo (Rodrigo De la Serna) é o elemento mais imprevisível e caótico na situação, e suas ações trazem graves consequências para a equipe. Se ao longo da Parte 4 o espectador se pergunta como ele pode ter se tornado tão inescrupuloso, os momentos iniciais do último episódio deixam claras as cicatrizes emocionais que o personagem carrega. Seu coração foi partido por uma dolorosa e frustrante rejeição, tendo o objeto do seu desejo tão calorosamente perto e, ainda assim, tão impossivelmente distante; não por falta de sentimentos mútuos, mas por um detalhe tão “técnico” quanto trágico. É um momento profundamente triste, encerrado por uma despedida que se tornaria muito mais definitiva do que ambos esperavam.

E essa não é a única surpresa do episódio final. Era razoável esperar que a Parte 4 mostraria a conclusão do assalto ao Banco da Espanha, mas não é isso o que ocorre. A ação principal desse episódio acompanha um ousado resgate, concluindo com duas chegadas que prometem movimentar a Parte 5, uma no banco e uma no esconderijo do Professor. O espectador que não voltar para ver a conclusão desses cliffhangers, com certeza voltará por mais arcos dramáticos como os de Nairóbi e Palermo, ou, pelo menos, pela presença de Berlim.

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