Crítica: A Escavação

The Dig, Reino Unido/EUA, 2021



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★★★★☆


É impressionante a quantidade de história que o diretor Simon Stone conseguiu encaixar nas duas horas de A Escavação. O filme sequer possui uma introdução “tradicional”, investindo na trama principal desde os primeiros momentos da narrativa. Antes da marca dos cinco minutos, os protagonistas se conhecem e vão sendo apresentados junto com a situação que os tornaria famosos: a escavação do sítio arqueológico de Sutton Hoo. É uma marcha tão rápida que o espectador fica imaginando com o que é que resto da produção será preenchido. Felizmente, muitas boas surpresas ocorrem na sequência.

Apesar da rápida introdução, a primeira é a metade mais lenta do filme, servindo para estabelecer o relacionamento entre Edith Pretty (Carey Mulligan) e Basil Brown (Ralph Fiennes) enquanto eles se tornam os pioneiros de um dos maiores achados arqueológicos da História da Inglaterra. Mas é na segunda metade que a trama fica mais “animada”, introduzindo novos personagens e novos conflitos. Além do arqueólogo do Museu Britânico Charles Phillips (Ken Stott) aparecer para assumir a escavação, o casal de arqueólogos formado por Peggy (Lily James) e Stuart Piggott (Ben Chaplin) se envolve em tensões românticas com o fotógrafo Rory Lomax (Johnny Flynn) e o também arqueólogo John Brailsford (Eamon Farren).

Vale lembrar que essas são versões fictícias dessas pessoas, reimaginadas no livro no qual o filme é baseado. Rory Lomax, por exemplo, é um personagem inteiramente fictício. A ideia da história não é ser uma representação fiel daqueles acontecimentos, mas sim uma homenagem às pessoas envolvidas naquela descoberta e uma reflexão sobre a vida, a morte e a passagem do tempo em um Universo cujo tamanho ainda nos é desconhecido.

Ao encontrarem artefatos de pessoas que viveram há mil anos, os personagens colocam suas próprias vidas em perspectiva. Depois de enfrentar a solidão causada pela perda do marido, Edith precisa agora encarar a própria mortalidade diante de uma doença que está fadada a custar-lhe a vida. Enquanto isso, Basil está preocupado com o legado que ele deixará para o futuro e em como ele entrará para a eternidade: será reconhecido pela sua descoberta ou apenas mais um anônimo como os bilhões de outros que já passaram pela Terra? Já Peggy se vê lidando com algumas frustrações da vida e com oportunidades perdidas que talvez ele jamais terá novamente.

E tudo isso ocorre enquanto o país se prepara para enfrentar uma ameaça existencial, prestes a entrar em guerra com a Alemanha nazista. De repente, aquelas pessoas passam a enxergar as próprias vidas não como uma grande história com começo, meio e fim, mas como uma pequena seção de uma história muito maior, que começou bilhões de anos antes de seus nascimentos e que seguirá em frente por mais bilhões de anos após suas mortes. Mil anos antes, os membros da cultura anglo-saxônica aos quais os objetos escavados pertenciam tinham seus próprios problemas e seus próprios dilemas, assim como, mil anos após as vidas dos escavadores, pessoas completamente diferentes também estarão tendo seus próprios problemas e seus próprios dilemas.

A Escavação é um tanto pesado no melodrama, mas as sensíveis e equilibradas atuações de Mulligan e Fiennes dão ao material a autenticidade do qual ele precisa. Em seus melhores momentos, o filme lembra o clássico Vestígios do Dia, que, inclusive, também é ambientado na Inglaterra rural dos anos 1930. A nova produção parece ter sido feita sob medida para os fãs dos clássicos dramas de época da Merchant Ivory Productions, que recentemente lançou o aclamado Me Chame Pelo Seu Nome.

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