Crítica: Shazam!

Shazam!, EUA, 2019



Aventura despretensiosa para toda a família é leve e divertida

★★★★☆


Com uma história simples e uma narrativa leve, Shazam! é uma das mais puras adaptações de histórias em quadrinhos. Ao abrir mão de toda a bagagem de seriedade e realismo que aquela mídia acumulou ao longo dos anos, o filme oferece a mesma experiência que a Action Comics oferecia nos anos 1930: uma história de superação e heroísmo para o público infanto-juvenil.

E Shazam é o herói perfeito para uma história como essa. Parte da magia para qualquer leitor de quadrinhos é se colocar e se sentir no lugar dos seus heróis favoritos. É por isso que a história de Billy Batson (Asher Angel) tem o mais primordial dos apelos: ele é um órfão de 14 anos que adquire a habilidade de se transformar no poderoso Shazam (Zachary Levi) sempre que o herói é requisitado.

Porém, o tema central de Shazam! não é o heroísmo, mas sim a busca de Billy por uma família. Mesmo antes do protagonista receber os poderes do Mago Shazam (Djimon Hounsou), o espectador é capturado pelo mistério do paradeiro da real família do garoto, que não parece estar em busca dele. Sua vida se resume a fugir dos lares que o adotam e ir em busca da próxima pessoa de sobrenome Batson em sua lista.

A família também é um tema central na vida do caricato vilão Doutor Silvana (Mark Strong), cujo insensível pai (John Glover) está longe de ser exemplar. As primeiras cenas do filme mostram como Silvana, ainda criança, quase se tornou o portador dos poderes de Shazam e acabou causando um acidente depois de não ser aprovado, o que o deixa obcecado com o Mago Shazam.

Por mais que Billy não retribua a atenção recebida, é na casa para órfãos mantida pelo casal Rosa (Marta Milans) e Victor Vasquez (Cooper Andrews) que ele encontra seu maior aliado: Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), um garoto deficiente e fã de heróis como Batman e Superman, que existem de verdade nesse universo. É Freddy que ajuda Billy a lidar com sua nova realidade, funcionando como uma espécie de mentor para o herói. É apenas no ato final que Shazam faz valer a sabedoria de Salomão e toma as rédeas do próprio destino.

Shazam! é um filme muito bem sucedido porque se propõe a fazer muito pouco. Se em filmes como Liga da Justiça e Aquaman o destino do planeta é decidido em batalhas épicas, aqui o escopo é bem mais reduzido e o foco está na comédia e no drama infanto-juvenil.

Os realizadores se esforçaram para fazer um filme que não se leva a sério demais, evitando os erros cometidos na maioria dos filmes do DCEU, mas talvez puxaram demais no sentido contrário. O descontraído clima de Sessão da Tarde funciona e até é bem-vindo, mas não representa um caminho sólido para ser seguido nessa franquia, especialmente se o estúdio quiser oferecer uma concorrência real ao sucesso do MCU.

Além disso, a veia cômica de Zachary Levi e as atuações no centro da trama, especialmente dos interpretes da nova família de Billy, são boas o suficiente para elevar a qualidade do material e fazer o espectador esquecer de quaisquer inconsistências no roteiro. Sem querer entrar em polêmicas, uma atuação no nível da de Levi em Shazam! poderia ter tornado a Capitã Marvel (crítica aqui) do cinema menos decepcionante. No lado da família, os destaques vão para Jack Dylan Grazer e a pequena Faithe Herman, que rouba todas as cenas nas quais aparece.

Com uma história despretensiosa e uma bela mensagem de fraternidade e aceitação, Shazam! inova ao voltar às raízes e se apoiar no que há de mais básico no mundo das histórias em quadrinhos. Por mais que hoje o mercado cinematográfico esteja dominado por adaptações de quadrinhos com histórias complexas e interconectadas, foi com histórias singelas e otimistas como essa que tudo começou.

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