Crítica: Resgate

Extraction, EUA, 2020



A trama de Resgate pode ser básica, mas a ação torna o filme uma pequena ópera de perseguições, tiros e explosões

★★★☆☆


Uma das maiores vantagens de Resgate é a pouca enrolação até chegar na ação. Após meros 20 minutos de filme, o protagonista Tyler Rake (Chris Hemsworth) já está derrubando bandidos em um prédio mal conservado na capital de Bangladesh. Isso é importante para um roteiro que não preza pela originalidade e serve apenas para transportar os personagens de uma sequência de ação para outra. E ele faz isso suficiente bem.

São poucos os momentos no qual a história fica no caminho da ação desenfreada, e há apenas uma subtrama realmente desnecessária: a do vilão Amir Asif (Priyanshu Painyuli). É necessário para a trama que seu personagem seja um criminoso poderoso o suficiente para ter toda a polícia de Daca sob seu comando, mas ele é escrito e interpretado de forma completamente caricata, o que contrasta com o tom ligeiramente mais sério do resto da produção.

Pode-se argumentar que a subtrama com Gaspar (David Harbour) também não era absolutamente necessária, mas a bem coreografada cena de ação que a finaliza serve para justificá-la. Esse momento de Resgate também serve para desafiar a bússola moral de Rake, cuja vida seria muito mais simples sem a companhia de Ovi (Rudhraksh Jaiswal), o adolescente que ele e a equipe de Nik (Golshifteh Farahani) foram contratados para resgatar.

A forma pela qual a extração do garoto se complica também é bem interessante, pois explora a complicada situação de Saju (Randeep Hooda), segurança que precisa recuperar Ovi mesmo sem ter nem o dinheiro do resgate e nem o dinheiro para pagar os mercenários. Entre seus papéis como aliado ou antagonista, ele é a segunda grande estrela de ação da produção.

Mas Resgate se justifica graças a duas grandes sequências de ação: a fuga desesperada quando o plano dá errado, que tem pouco mais de 10 minutos e passa por vários cenários e locações, e a travessia da ponte no ato final, com um mega tiroteio de quase 20 minutos de duração envolvendo granadas, franco-atiradores e helicópteros. É uma sobrecarga de ação e violência que deixa para trás um volume impressionante de mortos dentre as forças de segurança do país.

Apesar dos exageros (ou graças a eles), Resgate funciona bem melhor que Close, filme que tem uma premissa semelhante e também está disponível na Netflix. Nele, a mercenária Sam (Noomi Rapace) precisa proteger a adolescente Zoe (Sophie Nélisse) em uma cidade hostil, mas a narrativa se perde ao focar em uma trama mais complexa que o necessário e na relação entre as duas protagonistas, deixando a ação em segundo lugar. Essa premissa também é parcialmente explorada no ótimo Sicário: Dia do Soldado (crítica aqui), um filme de ação com uma abordagem mais realista e dramática.

O grande destaque da produção é o ator Chris Hemsworth, que mostra sua versatilidade e potencial como herói de ação fora do universo “mágico” da Marvel. Em Resgate, seu característico bom humor aparece poucas vezes em uma performance mais dramática e brutal do que em seus papéis mais conhecidos. Se emplacar mais um sucesso como esse, talvez o ator tenha um futuro garantido em filmes de ação originais da Netflix.

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