Crítica: Relatos do Mundo

News of the World, EUA, 2020



Faroeste é tradicional e relativamente previsível, mas muito bem executado

★★★☆☆


Desde seus primeiros momentos, Relatos do Mundo passa a sensação de ser um faroeste dramático à moda antiga, e é exatamente isso que o filme tem a oferecer. A história sobre honra e compaixão é contada da forma mais direta e sincera possível, sem grandes reviravoltas ou floreios narrativos. Isso acaba tornando-o um pouco previsível para quem já conhece o gênero, mas as ótimas atuações da dupla principal e a firme direção de Paul Greengrass fazem da experiência algo muito mais agradável do que enfadonho. O filme lembra o ótimo Dívida de Honra com alguns toques de Bravura Indômita.

Algo que pode ser um pouco frustrante é o fato de que a profissão do Capitão Kidd (Tom Hanks) é muito pouco explorada pela narrativa. O trabalho do “leitor de notícias” que vai de cidade a cidade no Texas do Velho Oeste serve apenas como pano de fundo para a trama principal. Mais que isso, é difícil até traçar um paralelo ou estabelecer uma conexão entre o trabalho e a “missão” da qual ele se encarrega.

No máximo, pode-se dizer que, assim como ele puxou para si a responsabilidade de manter os pequenos povoados cientes dos acontecimentos do mundo exterior, ele também puxou para si a responsabilidade de levar a órfã Johanna (Helena Zengel) para os únicos familiares que lhe restam. De certa forma, ele está tentando civilizar tanto a garota quanto os locais nos quais trabalha.

Porém, o que há em comum é mais a questão da responsabilidade do que o ofício em si. Isso significa que se Kidd fosse carteiro ou vendedor ambulante, isso não faria muita diferença para a história. Há um único momento de Relatos do Mundo no qual o “jornalismo” dele se destaca, mas, mais uma vez, é um acontecimento desconectado da narrativa principal.

Felizmente, a atuação da jovem Helena Zengel é uma atração à parte. Sua personagem é uma garota alemã que passou anos vivendo com uma tribo indígena, absorvendo a língua e os costumes de seus captores. A atriz consegue transmitir tanto uma fragilidade infantil quanto a dureza de quem já perdeu duas famílias em uma terra impiedosa. Nos momentos mais previsíveis do personagem de Hanks, é ela quem sacode a narrativa e torna os desenvolvimentos interessantes. E, na maioria das vezes, ela faz isso apenas com olhares e grunhidos, já que não adianta muito falar a língua indígena com seu novo guardião.

Talvez a narrativa ficaria mais interessante se houvesse um grande antagonista perseguindo-os ao longo da trama, mas isso tiraria o foco da evolução emocional dos personagens e faria o drama ceder espaço para a ação e o suspense. Além disso, pode-se dizer que o grande antagonista aqui é o oeste selvagem dos EUA, onde tanto a natureza quanto criminosos desesperados oferecem perigos existenciais.

Jornadas como a de Kidd e Johanna já foram contadas várias vezes no cinema, e isso diminui boa parte do impacto de Relatos do Mundo. Porém, o filme é bom o suficiente para agradar aos fãs do gênero e para introduzir novos espectadores aos contos épicos do Velho Oeste. Para os novatos, existe todo um universo cinematográfico que pode ser explorado depois desse “capítulo introdutório”.

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