Crítica: Killing Eve – 3ª Temporada

Killing Eve – Season 4, Reino Unido, 2020



Terceira temporada de Kiling Eve é ligeiramente diferente e funciona por motivos distintos das duas anteriores

★★★★☆


Nessa terceira temporada, todos os personagens fixos de Killing Eve parecem estar em busca de novos significados para suas vidas. A série deixa a perseguição à organização criminosa conhecida como Os Doze em segundo plano e explora com mais profundidade os aspectos emocionais de suas personagens. Enquanto Eve (Sandra Oh) tenta salvar o pouco que restou da vida que ela tinha na primeira temporada, Villanelle (Jodie Comer) é obrigada a confrontar os sentimentos e o passado que ela vem desde o início tentando reprimir.

killingeveseson31Mesmo Carolyn (Fiona Shaw) está no limite da sua frieza e serenidade, tendo que lidar com situações que exigem muito mais dela como ser humano do que como mestre-espiã. Konstantin (Kim Bodnia), por sua vez, já viveu o suficiente da clandestinidade do seu trabalho e procura uma rota de saída daquele mundo. Na prática, é a busca de Konstantin por um novo começo que se torna a principal força motriz dessa temporada, mantendo tanto Os Doze quanto o MI6 sem entenderem exatamente o que está acontecendo.

O mesmo vale para duas novas personagens. Enquanto Geraldine (Gemma Whelan), filha de Carolyn, tenta se reconectar emocionalmente com sua reservada mãe, a ex-assassina Dasha (Harriet Walter) tenta recuperar tanto a glória dos seus dias de ouro quanto o direito de ir morar e morrer em sua terra natal, a Mãe Rússia. Por mais diferentes que sejam, ambas estão em busca de algo confortável e acolhedor do passado.

Essa nova abordagem narrativa pode desagradar quem estava esperando uma história mais simples e direta, na qual há um claro objetivo a ser alcançado ou um claro vilão a ser derrotado no final da temporada. Porém, ela também dá aos realizadores a possibilidade de explorar novas visões desse exagerado universo fictício. O quarto episódio, por exemplo, conta a história de forma ainda mais envolvente ao focar nos pontos de vista de cada um dos personagens. Já o quinto é inteiramente focado em uma perturbadora visita de Villanelle ao seu passado, explorando os aspectos que a fazem se sentir tão desconectada e alienada daquela realidade.

A personagem Geraldine pode não ser uma adição inteiramente necessária, mas as interações entre ela e Carolyn acabam fazendo a sua presença valer a pena. São cenas e atuações dignas de dramas mais sérios e mais realistas do que Killing Eve, e que acabam sendo sua própria justificativa. Não importa se as conversas que elas tiveram em casa não vão resultar em muita coisa no final da temporada, pois os profundos e sutis duelos verbais que elas travam e a forma como eles revelam suas negligenciadas cicatrizes emocionais, além do show de atuação de Fiona Shaw, já são a recompensa para o espectador.

killingeveseason32Mas o grande show fica por conta de Jodie Comer, que já é dona de um Emmy por sua atuação como Villanelle. A atriz surpreende ao expandir a amplitude emocional da personagem de forma natural e comovente, ainda que sem perder a irreverência em seus momentos de humor negro. A Villanelle da terceira temporada fica mais violenta, instável e sombria, e Comer representa fantasticamente bem a angustia de uma pessoa que está usando todas as suas forças para tentar reprimir uma enxurrada de sentimentos que simplesmente se recusam a serem reprimidos. Em alguns momentos, por mais que ela esteja tentando sorrir ou cantar uma música, as lágrimas insistem em aparecer nos seus olhos vazios.

Já Sandra Oh não tem muito com o que trabalhar em termos de atuação, mas sua personagem segue sendo a cola que conecta as várias tramas. Uma vez que ela já teve seus destaques dramáticos nas temporadas anteriores, é até aceitável que ela ceda espaço para os outros desenvolvimentos. Afinal, ela foi a primeira personagem da série a ter que lidar com sentimentos incontroláveis que desestabilizaram a sua vida.

Sua relação de oposição e obsessão com Villanelle segue ambígua, apesar dos fãs continuarem torcendo por um romance entre as duas (com Issues e tudo). Tal desenvolvimento teria que ser muito bem escrito, já que na segunda temporada Villanelle deu todos os sinais de que seria uma parceira abusiva, a ponto de dizer para Eve: “Não se esqueça, a única coisa interessante que existe em você sou eu.” Além disso, a assassina literalmente tentou matar Eve depois de ser rejeitada, no melhor estilo “se eu não puder tê-la, ninguém mais vai.” Portanto, além da evolução emocional pela qual a personagem passou na terceira temporada, um romance entre as duas exigiria que Villanelle fizesse pelo menos algumas dezenas de sessões de terapia na esperança de conter sua psicopatia.

Se for o caso, isso vai ficar a cargo da escritora Laura Neal, que assume como showrunner da quarta temporada de Killing Eve. Isso continua a tradição estabelecida pela criadora Phoebe Waller-Bridge de ter uma escritora diferente responsável pela série em cada temporada, dando voz para diferentes mulheres manifestarem sua visão das personagens. A própria Waller-Bridge ficou a cargo da primeira, Emerald Fennell da segunda e Suzanne Heathcote da terceira. E, até agora, essa tem sido uma estratégia de sucesso.

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