Crítica: Godzilla II – Rei dos Monstros

Godzilla: King of the Monsters, EUA, 2019



Filme faz estritamente o que os fãs esperavam, e isso é mais do que o suficiente

★★★★☆


Se muitos espectadores reclamaram do “mistério” feito no primeiro filme (crítica aqui) até a primeira aparição de Godzilla, em Godzilla II: Rei dos Monstros isso não é um problema. Essa continuação foca nos monstros gigantes e nas batalhas entre eles, com extensivas participações de Rodan, Mothra, King Ghidorah e do personagem principal.

Com três grandes batalhas entre Godzilla e o dragão de três cabeças King Ghidorah, além de participações mais do que especiais de Rodan e Mothra, a ação é o grande destaque da produção. Porém, ainda há tempo para momentos de pura beleza e/ou puro terror, quando os humanos podem olhar para cima e encarar a própria insignificância diante das magníficas criaturas.

godzilla IIApesar das muitas críticas negativas que vem recebendo, a trama de ecoterrorismo e ficção científica dada aos personagens humanos é boa o bastante para justificar o despertar dos titãs e preparar as mega-batalhas, que são o prato principal. Além disso, mesmo em seus piores momentos, o roteiro é salvo pelas atuações de um elenco de primeira linha, que inclui nomes como Kyle Chandler, Vera Farmiga, Charles Dance, Millie Bobby Brown, Ziyi Zhang, Bradley Whitford, Ken Watanabe e David Strathairn (esses dois últimos também estavam no primeiro filme).

Ainda assim, a narrativa poderia ser mais simples e se levar menos a sério, o que a deixaria mais próxima do ótimo Kong: A Ilha da Caveira (crítica aqui). Aquele filme tem uma pegada mais leve e mais divertida, o que funciona muito bem como alívio cômico entre as cenas de ação. Já o alívio cômico em Godzilla II é esporádico e jamais provoca boas risadas.

A comédia é deixada de lado em prol do drama da família Russell, formada por Mark (Kyle Chandler), Emma (Vera Farmiga) e Madison (Millie Bobby Brown). Assim como o resto da trama, esse é um núcleo que cumpre o seu papel de forma aceitável, apesar de não provocar o envolvimento que os realizadores provavelmente esperavam.

O aspecto mais interessante da história é a motivação dos ecoterroristas. Jonah Alan (Charles Dance) é um dos líderes do movimento que acredita que os kaijus representam uma forma do planeta Terra recuperar o equilíbrio natural, que foi e está sendo prejudicado pela atividade humana. Eles acreditam que uma significativa diminuição da população seja a única forma de voltarmos a consumir os recursos do planeta de forma sustentável, o que é uma ideia falaciosa compartilhada por pessoas no mundo real.

Mesmo que a teoria populacional malthusiana ainda fosse aceita (teorias demográficas mais modernas já foram elaboradas), ela não dá a ninguém o direito de provocar extermínios em massa. Além disso, a mera diminuição da população apenas adia o problema do consumo de recursos, pois o grande “vilão” é a taxa de crescimento populacional. Ou seja, mesmo que a população mundial fosse significativamente reduzida, com as atuais taxas de crescimento seria apenas uma questão de tempo até o problema voltar ao ponto inicial.

Enquanto esses ecoterroristas dizem estar atuando em nome da natureza ou mesmo da raça humana, o que eles realmente canalizam através desses planos são a misantropia e o complexo de superioridade (ou mesmo o efeito Dunning-Kruger) internalizados por eles. Essas aflições psicológicas fazem com que eles se considerem aptos para tomar decisões por toda a espécie humana, mesmo quando eles não possuem a menor autoridade para tal. Um outro vilão que sofre do mesmo problema é o Thanos (Josh Brolin) de Vingadores: Guerra Infinita (crítica aqui).

A natureza humana é explorada de forma mais profunda na trilogia japonesa de filmes de animação sobre Godzilla lançada entre 2017 e 2018 (e disponível no Brasil pela Netflix). A premissa básica é que, depois que os kaijus começaram a atacar a humanidade no final do Século XX, a humanidade contou com a ajuda de duas raças alienígenas, os Exif e os Bilusaludos, para escapar do planeta e ir em busca de um novo lar. Vinte anos depois, as tentativas de realocação não se mostraram bem-sucedidas e os recursos começam a ficar escassos na nave espacial Aratrum.

Em Godzilla: Planeta dos Monstros, o protagonista Haruo (Mamoru Miyano) tem que convencer os outros tripulantes a superarem o medo e voltar para a Terra e derrotar Godzilla, o mais destrutivo dos kaijus. Em Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha, é o radicalismo militarista dos Bilusaludos que se mostra problemático para o herói. Já em Godzilla: O Devorador de Planetas, que é o mais fraco dos três, o fanatismo religioso dos Exif faz surgir uma nova ameaça em um planeta Terra já irreconhecível.

Godzilla II: Rei dos Monstros é o terceiro filme da franquia que vem sendo chamada de MonsterVerse, que inclui o Godzilla de 2014 e Kong: A Ilha da Caveira. O quarto filme trará um embate entre dois dos monstros gigantes mais populares da história do cinema: Godzilla vs Kong já está em pós-produção e será lançado entre março e maio de 2020. Se depender dos outros kaijus apresentados e da cena pós-créditos de Godzilla II, mais produções podem ser esperadas.

Esse capítulo atual mostra que os produtores da franquia aperfeiçoaram a ação, o que já é o suficiente para os fãs. Porém, se quiserem garantir um sucesso mais consolidado e abrangente, falta-lhes refinar a narrativa. Isso vai capturar a atenção de quem não se impressiona com animais de mais de 100 metros de altura pisoteando cidades e derrubando aviões enquanto se digladiam até a morte (ou “rinha de kaiju“).

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