Crítica: Cemitério Maldito

Pet Sematary, EUA, 2019



Readaptação é uma boa tentativa, mas não funciona como o esperado

★★☆☆☆


Cemitério Maldito é bom o suficiente para o espectador que estiver com baixíssimas expectativas, mas vai decepcionar aqueles que estiverem esperando algo mais profundo ou envolvente. A narrativa segue a toque de caixa e não permite que os personagens (e nem o público) processem o impacto emocional da maioria dos acontecimentos. Dessa forma, o que sobra é um pequeno conto de terror com ares de slasher em seu ato final.

Os momentos mais divertidos da projeção são as interações entre o protagonista Louis (Jason Clarke) e a primeira pessoa ressuscitada no cemitério indígena (a identidade desse personagem pode ser considerada um spoiler, apesar de já ter sido amplamente revelada no material de divulgação). Esses e outros momentos de humor negro (que, me parece, nem sempre são intencionais) são os mais recompensantes para o espectador. Se os realizadores tivessem abraçado completamente essa abordagem, eles teriam em mãos uma comédia de terror quase no nível de um Arrasta-me Para o Inferno.

Mas para que os acontecimentos aqui tivessem a profundidade e o impacto esperado, a narrativa precisaria da calma e da contenção de um autêntico drama, como foi feito no recente sucesso Hereditário (crítica aqui). Nele, o luto e o ressentimento causados por uma perturbadora tragédia no seio familiar vão lentamente dando espaço para puros elementos de terror, alternando entre os gêneros sem jamais perder um inquietante clima de pesadelo da vida real.

O filme também falha em explorar as temáticas evocadas pela história, como os sentimentos de luto e de culpa depois da perda de um familiar próximo. Os traumas de Rachel (Amy Seimetz), esposa de Louis, são usados apenas para viabilizar algumas cenas de suspense e terror psicológico, que funcionam muito bem mas não fazem nenhuma grande contribuição para a história sendo contada.

Outro tema ligeiramente abordado é o da obsessão. Depois das consequências da ressurreição do gato Church, Louis deveria entender que muita coisa poderia dar errado ao trazer de volta um ser humano. Porém, seus sentimentos o deixam cego para a razão e ele insiste no erro mesmo depois das primeiras evidências de que aquilo não tem como dar certo. Isso poderia ser um furo no roteiro, mas também pode ser considerado um reflexo da nossa tendência de enxergar apenas o lado positivo de determinadas situações.

Não é fácil adaptar uma história como essa para as telas de cinema, mas outras obras de Stephen King já foram adaptadas com grande sucesso. Os exemplos mais recentes são o refinado e impactante It: A Coisa e o singelo e eficaz Jogo Perigoso. Essas duas adaptações conseguem capturar a essência e repassar a mensagem dos romances com o mínimo possível de perda. Cuidados semelhantes poderiam ter sido tomados com esse Cemitério Maldito.

Para piorar, o novo e surpreendente final é completamente desprovido de significado e seria mais adequado em uma autêntica comédia de terror. O resultado é um filme que desperdiça não apenas um ótimo e dedicado elenco, mas também a oportunidade de contar uma história de terror que poderia trazer à tona nossos priores medos e ainda assim deixar uma mensagem de esperança e superação.

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