Crítica: Bad Boys Para Sempre

Bad Boys for Life, EUA, 2020



Produção entrega com excelência tudo e um pouco mais do que se poderia esperar de um filme da franquia Bad Boys

★★★★☆


Se fossemos analisar de forma lúcida e objetiva seria possível perceber que Bad Boys Para Sempre possui inúmeros defeitos e buracos no roteiro. Entretanto, o filme aplica velhos clichês de forma tão honesta e divertida que só resta ao espectador embarcar nas loucuras e absurdos de um típico filme de ação dos anos 1990, produzido pelo lendário Jerry Bruckheimer e tudo. Doideira demais.

O que mais surpreende nesse novo capítulo da antiga franquia é que o aspecto dramático funciona bem melhor do que o esperado. Os dois protagonistas são confrontados com o peso da passagem do tempo e são obrigados a encarar a própria mortalidade de forma muito mais séria e madura do que eles mesmos esperavam.

Enquanto Marcus (Martin Lawrence) resolve finalmente se aposentar e passar mais tempo com sua família, Mike (Will Smith) acredita que irá manter seu irresponsável e desgarrado estilo de vida até seu último suspiro. Isso quase se torna realidade quando um atentado contra sua vida mostra que ele não é intocável e o abala psicologicamente.

E é aí que Bad Boys Para Sempre sai de sua zona de conforto. Tanto o atentado quanto os eventos posteriores a ele levam Mike a questionar seriamente a vida que tem levado, as escolhas que fez e até seu próprio estilo e identidade. Os traumas, os arrependimentos e as oportunidades perdidas vêm à tona. A atuação de Will Smith é vital para mostrar apenas com olhares e expressões faciais a angústia que toma conta do personagem.

Isso explica a violência e a impulsividade com as quais ele tenta lidar com a situação. Para ele, ao eliminar as pessoas que tentaram matá-lo, ele vai conseguir fazer com que tudo volte ao normal. Ele pode ter sobrevivido ao atentado, mas a imagem que ele tinha de si próprio desapareceu para sempre.

Toda essa situação dá a deixa para alguns dos momentos mais autenticamente profundos e reflexivos de toda a franquia. Um dos grandes destaques é a pequena fábula do homem e o cavalo contada pelo capitão Howard (Joe Pantoliano), na qual o cavalo descontrolado representa os medos e os traumas que estão conduzindo a vida de Mike.

Depois de tanta ousadia dramática (e depois de algumas reviravoltas e revelações do passado), não é de se estranhar que o filme termine com um momento que quase lembra as tragédias shakespearianas (ou as telenovelas mexicanas).

Apesar desses interessantes aspectos dramáticos, é a ação e a comédia que transportam o espectador para uma outra era cinematográfica. Nem tudo funciona 100%, mas é preciso agradecer aos diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah por, em alguns momentos, simplesmente pararem a narrativa e deixarem Smith e Lawrence fazendo hilárias piadas um com o outro, seja em um avião prestes a decolar ou em uma moto em altíssima velocidade e sob uma inacreditável chuva de balas (que jamais os acertam, é claro).

O filme também conta com divertidas participações especiais, sejam de personagens do passado da franquia (por exemplo, Reggie) ou seja de celebridades da atualidade, como os músicos DJ Khaled e Nicky Jam. O próprio Michael Bay, diretor dos dois primeiros filmes, faz uma rápida participação especial como o mestre de cerimônias de um casamento.

Mesmo a introdução da equipe AMMO funciona como o esperado, colocando rostos conhecidos do público atual na produção (caso de Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig e Charles Melton) e ajudando a trazer a franquia para o final da segunda década do Século XXI. A líder da equipe é interpretada pela mexicana Paola Nuñes, uma das revelações da produção (mas já conhecida por algumas novelas mexicanas).

Quem também se destaca são os vilões, interpretados pela mexicana Kate del Castillo, que já tem uma carreira bem estabelecida entre os EUA e o México, e Jacob Scipio, britânico que ainda está dando os primeiros passos em Hollywood. Os dois impressionam com a dedicação e a ferocidade que dão a seus homicidas personagens, mesmo nos momentos mais dramáticos.

Em suma, Bad Boys Para Sempre é diversão em forma bruta e no melhor estilo dos anos 1990, a ponto de deixar nostálgicos aqueles que cresceram assistindo as produções de Bruckheimer. O filme acerta inclusive nos muitos aspectos nos quais uma outra recente colaboração entre Smith e Bruckheimer falhou: Projeto Gemini (crítica aqui) só é assistível graças à presença de Smith e a algumas boas cenas de ação.

Se a franquia Bad Boys seguir em frente com o mesmo nível de qualidade de Bad Boys Para Sempre, as continuções serão muito bem-vindas.

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